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Título: Tucanei a bossa nova *
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 11/07/2008
 

Meus amigos e, principalmente, meus inimigos...

Vou lhes dizer com todas as letras.

Desde priscas eras, eu "tucanei" em termos de bossa-nova.

Não seria agora – aos 57 anos de idade, eu; e nas comemorações dos cinquentinha dela – que iria roer a corda e dizer que sempre a amei de paixão.

Gosto, mas não me enrosco.

Para começar quando ouvi “Chega de Saudade” pela primeira vez no rádio de casa, achei divertida a história dos “peixinhos a nadar no mar”.

Considerem que tinha sete anos, por favor.

Sei que nomes como Caetano, Gil, Chico e outros tantos costumam dizer que a audição de João Gilberto foi um divisor de águas e cousa e lousa e maripousa.

Mas, há que se compreender: eles eram um tantinho mais idosos que eu. Tinham lá seus quinze, dezesseis anos e, além de tudo, eram – e são – gênios.

Eu, registre-se, sempre fui “um menino de mentalidade mediana”.

Aliás, inesquecível para mim foi a primeira vez que ouvi uma música de Jorge Ben. Foi “Chove Chuva”, com aquela introdução refinada e os versos simples a pontuar um ritmo que não era bossa, não era samba, não era jazz. E era um pouco de tudo ou de tudo um pouco. Mas, principalmente já trazia a indelével marca de outro gênio da MPB.

A molecada estava reunida em frente à venda do seo José, quando o rádio tocou a canção. Lembro do Darci, que era mais velho que nós e saía como batuqueiro da Império do Cambuci, a nos intimar que prestássemos atenção na batida do violão, diferente de tudo o que já tínhamos ouvido.

Mas, o que me impressionou foi a letra.

Tão simples, tão direta...

Uma sensação que aumentou ainda mais, semanas depois quando ouvi “Por Causa de Você, Menina”.

“Mas, você passa e não me olha.
Mas, eu olho pra voxê.
Você, não me diz nada.
Mas eu digo pra voxê.
Você por mim não chora.
Mas eu choro por voxê”

Havia até uma polêmica sobre a interpretação de Benjor. Diziam que ele tinha a língua presa porque dizia ‘voxê’, e não você no fim de cada verso.

Eu nem liguei. Adorei a música e os versos.

Era tudo o que eu queria dizer para Ligia -- e ela não dava a mínima para mim.

Eu tinha onze anos...

Parte 2

Desconfio que o post de ontem sobre a bossa-nova ficou incompleto. Escrevi que “tucanei” em relação à bossa-nova e depois me pus comentar as primeiras canções de Benjor. De resto, me impressionaram mais do que a aparição de João Gilberto.

Que os ilustres fãs do mito me perdoem. Mas, não vou mentir.

À época do lançamento de ‘Chega de Saudade’, havia um programa na TV Record nas noites de sábado, apresentado por Randal Juliano. Chamava-se Astros do Disco, era uma espécie de parada de sucesso em que todos acreditavam. Não existiam play-back e vídeo-tape. Os cantores viviam a mesma expectativa que o público, pois obrigatoriamente iam lá defender suas canções, caso estivessem entre as mais vendidas e mais tocadas nas rádios. Como disse ontem, achei bacana a canção de João e torcia para que aparecesse entre as mais mais. Minha preferida, no entanto, era para “Sereno”, um dolente samba-canção, cantado por Paulo Molen. Falava de um homem apaixonado que fazia confidencias amorosas ao tal “sereno da madrugada”. Havia levado um pé na bunda da amada e, na letra, perambulava pela rua, abandonado, “triste e sozinho”.

Um dramalhão para os meus sete anos.

Mas, que fazer?

Sempre fui um coração mole...

No início dos anos 60, quando apareceu a segunda geração de bossanovistas, confesso que troquei “o barquinho vai e a tardinha cai” para o que se entendia como “música de protesto”, assinadas pelos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle.

“Mas, um dia vai chegar
Que o mundo vai saber
Não se vive sem se dar
Quem trabalha é quem tem
Direito de viver
Pois a terra é de ninguém”

Os versos fortes ganharam, posteriormente, uma versão definitiva na voz de Elis Regina – e aí eu capitulei de vez.

Até a página 2, eu diria...

Porque logo vieram os Beatles e depois a Jovem Guarda, e me foi impossível escapar ao fascínio dos três acordes básicos que sustentam o rock. Uma explosão de alegria e juventude – especialmente para nós, adolescentes remediados do Cambuci e, ao que consta, para os jovens suburbanos do mundo todo.

Lembro que estudava comigo no antigo curso ginasial um menino talentosíssimo, Francisco de Paula Brandão Bisneto. Ele tentava de todas as formas me ensinar a tocar no violão os acordes e harmonias da bossa-nova, das canções de Tom Jobim, Carlinhos Lyra e outros. Um esforço em vão do amigo que tinha um violão da marca Di Giorgio, um luxo inimaginável para nós.

Eu, ruim da cabeça e doente do pé, me achava mais próximo do que cantava o Erasmo:

“Um dia, gatinha manhosa,
eu prendo você em meu coração.
Quero ver você,
Fazer manha então...
Presa no meu coração,
Quero ver você...”

O meu amigo, depois de grande, virou artista. Ator, músico, personagem infantil – era o Professor Porópópó.

Adotou, então, o nome de Chiquinho Brandão...

Parte 3

Diz com quem andas
e te direi quem és...

Não sei se Elis Regina valeu-se da bíblica citação para expulsar Benjor – ainda Jorge Ben, naqueles idos dos 60 – do elenco do programa Fino da Bossa que comandava ao lado e Jair Rodrigues e do Zimbo Trio, na TV Record. Mas, que ela mandou o Babulina procurar sua turma, mandou...

Explicam-se as razões.

Depois de um começo fulgurante – emplacou três sucessos insuperáveis ainda hoje ‘Mas Que Nada’, ‘Chove Chuva’ e ‘Por Causa de Você, Menina’ – esse carioca do Rio Comprido, amigo de Erasmo e Tim Maia, tornou-se nome nacional.

Em pouco mais de dois anos, gravou quatro elepês – Samba Esquema Nova, Sacundim Ben Samba, Ben É Samba Bom e Big Ben – e foi orientado a tentar uma carreira internacional. Por isso, viajou para os Estados Unidos para uma temporada sem data para voltar.

O showbiz made in Usa, diziam, tinha espaço para um violonista latino. Benjor podia muito bem ser esse tal na esteira do sucesso de ‘Mas Que Nada’ em terras ianques, gravada por Sérgio Mendes e seu quinteto.

Vale ressaltar que o disco Big Ben não foi lá muito elogiado – especialmente pelos críticos mais conservadores. Um deles, Walter Silva, o Pica-pau, chegou a vociferar em seu programa de rádio, dizendo que Bejor havia se bandeado para o lado do rock.

Outra explicação.

Roberto Carlos começava a fazer sucesso e um dos seus hits contava a história do homem que matou o homem mau. Benjor não resistiu e fez uma réplica desta canção. Chamou-se “A História do Homem Que Matou o Homem Que Matou o Homem Mau”.

Caíram de pau no Babulina que, a esta altura, já enfrentava o frio das Américas.

De qualquer forma, o tempo em que ficou por lá foi suficiente para que o público e o rádio e a emergente TV esquecessem o artista.

De volta ao Brasil, teve que retomar a carreira do zero. Estava, inclusive, sem gravadora. Passou, então, a se apresentar em casas noturnas do Rio e de São Paulo até que foi convidado por Elis a se apresentar em O Fino da Bossa. Na seqüência, acabou ganhando um contrato com a TV Record para fazer parte do cast fixo do programa.

Melhor impossível...

Só que numa dessas idas e vindas dos bastidores da Record, Benjor encontrou Erasmo e Roberto, velhos amigos da Zona Norte do Rio. Eles o convidaram para visitá-los e se apresentar no programa Jovem Guarda.

Foi o suficiente para Elis se sentir traída...

Benjor deu área e passou a fazer parte da turma da Jovem Guarda – o que, em última análise, deu origem ao que hoje se denomina samba-rock.

Mas, aí a bossa-nova já havia virado MPB e esta é uma outra história que fica para uma outra vez. Até porque logo em seguida veio o Tropicalismo e, felizmente, pôs fim a todas as cisões da música popular mais rica do mundo...

 
 
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Autor: Roberto Cardia Data: 29/05/2015
Excelente o teu artigo sobre o Babulina. Fui companheiro dele nos primórdios da sua carreira.
Reuníamos no Largo do Rio Comprido (Praça Condessa Paulo de Frontin) às noites para ouví-lo cantar e tocar o seu violão. A primeira coisa que ele criou realmente foi a batucada no pinho do violão. Era um sujeito predestinado. Não bebia, não fumava e era extremamente simpático. Ele compôs uma música para uma menina que ele gostava e que os pais não permitiam o namoro (não cheguei a saber quem era) e parte da letra era assim: "Você é uma princesa e eu sou um plebeu, o último será o primeiro e o último sou eu. Eu sei e você sabe, que isso não importa, mas existe alguém que do nosso amor não gosta.." Como ele não tinha recursos, foi convidado por um dos nossos amigos, o Rovaldo, que era despachante, a morar com ele em Copacabana, na rua Paula Freitas, e quando precisasse de dinheiro faria alguns serviços para ele o Rovaldo e iria tocando a vida. Nas primeiras semanas até que deu certo, mas logo a alma do artista o levou à música e assim, quando íamos ao apartamento do Rovaldo, mesmo no inverno, quando não havia quase ninguém na praia, avistava-se uma pequena aglomeração na areia: era o Babulina no meio da rapaziada com o seu violão. Havia conquistado a turma da zona sul. Foi aí que ele começou a tocar no Beco das Garrafas, sempre que algum músico faltava. Então foi descoberto pelo pessoal da Philips. Em 1971 fui embora para Brasília (para aquele buraco infernal) e perdi o contato com o meu amigo.
 
Autor: PEDRO LRAMOSUIZ Data: 26/05/2015
Ola Rodolfo.... historias muito interessantes.... sabado conheci Roberto Cardia, que era do Rio Comprido...que foi amigo de Jorge Ben Jor no inicio de sua carreira. contou várias historias sobre aquele tempo e sobre Jorge Ben.... e essas historias batem com as que vc descreve aqui....só que ele tem mais detalhes....inclusive sobre o "voxe" - diz que ele cantava assim por medo que sua ponte dentaria lhe escapasse da boca.... hilariante.... os produtores acharam muito engraçado e gravaram assim mesmo....
 
 
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