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Título: De absurdos, reflexões e crianças...
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 08/10/1999
 

"Nós somos todas as canções."

01. Encontrou-me em frente ao Franz Café da avenida Nazaré na manhã de ontem. Nem se preocupou em perguntar qual seria o assunto da coluna da semana. Foi logo despejando que eu deveria escrever sobre o Lula e sua participação no programa Roda Viva na noite de segunda-feira. Que absurdo! -- não entendi a exclamação, mas preferi contemporizar. Assisti alguns trechos do programa -- e não havia como descobrir ao quê se referia o simpático interlocutor. Você viu (as pessoas julgam que basta ser jornalista para ser onipresente, tudo ver e tudo saber), ele acusou os meios de comunicação de tramarem a vitória de FHC na eleição do ano passado. Que absurdo! Ainda sem entender se era um absurdo bom ou um absurdo ruim, pronunciei-me categoricamente. Pois, é... Foi o suficiente para que continuasse. Houve mesmo a tal reunião do presidente-candidato com os proprietários dos principais jornais e televisões em junho do ano passado quando as pesquisas indicaram empate técnico entre Lula e FHC? Sequer tive tempo de balançar a cabeça. E tascou-me outra. Houve mesmo a tal pressão pró-Fernando Henrique? Tentei dizer-lhe que sim. Mas, ele já tinha uma opinião formada sobre o assunto, sentia-se duplamente traído (pelo governo e pela mídia), e nem me escutou. Que absurdo!

02. Caminhei em direção à Igreja Imaculada Conceição, onde vou quase todas as manhãs. Impressiona-me a despojada beleza deste templo e a luz filtrada pelos vitrais azuis que ilumina seu interior. Gosto do seu silêncio, sinto-me feliz ali. Parece que uma boa nova vai chegar a qualquer momento. Só nós mesmos sabemos o que há de sagrado dentro de nós que merece ser preservado a qualquer custo. Um trabalho, uma missão, um sentimento; inevitavelmente um amor que se transforma em oração e alimenta a alma do mundo. O falso e o verdadeiro resplandecem e nos propõem a escolha do que somos. Nem sempre quem nos faz sorrir é o amigo que aponta o caminho. Quem nos faz pensar, mesmo que nos custe enfrentamentos que desejaríamos não ter, transforma-se na seta e no alvo. Quem nos faz pensar, nos faz melhor...

03. Chego à Redação com a certeza de que esse tempo de reflexão é vital, até mesmo para questões de âmbito social. Será que nossos políticos e governantes pensam em profundidade e com firmeza de propósitos antes de votarem uma questão, como a nova lei da previdência, que vai mudar a vida de todos nós? E o confronto entre perueiros e a PM, que transformou as ruas de São Paulo, em praça de guerra -- a quem interessou? Toda essa discussão em torno do problema da Febem e de ações policialescas e arbitrárias resolveriam mesmo o caos de uma cidade, a cada dia, mais miserável e desumana? Será que a sociedade não teria que refletir sobre essas questões -- e assumir ela própria alguma culpa? Ao menos, a indiferença dos mais abastados para o enorme contingente dos que nada têm. Só dizer que absurdo, e não fazer valer a verdade na hora certa, de nada adianta. Vale para tirar dos nossos ombros qualquer resquício de culpa -- e só...

04. Diante do computador, pronto para escrever a coluna, não resisto e prefiro contar uma luminosa história de vida que, entendo, cabe muito bem nesta ante-véspera do Dia das Crianças: a garota de 4 anos insistiu junto ao pai para ficar sozinha com a irmã recém-nascida. O pai ficou desconfiado. Pensou nas habituais crises de ciúmes que se manifestam nessas ocasiões -- e temeu atender ao pedido da irmã mais velha. A garotinha, no entanto, tanto insistiu que não houve outra saída. Mesmo contrariado, deixou o quarto e, com a porta entreaberta, ficou a espreita dos acontecimentos. Bastou um instante para a menina se aproximar do berço e, revelando todo seu entusiasmo, perguntou: e aí, fala, me conta como é Deus... Que eu já estou esquecendo.

05. As crianças transcendem o absurdo, criam o mundo a partir dos próprios sonhos. Estão próximas de Deus.

 
 
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