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Título: O marqueteiro (2)
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 22/07/2010
 

A palavra de ordem no início dos anos 80 era redemocratização.

Nasci deixou o jornal e passou a ser homem de confiança do vereador Almir Guimarães, desde logo alçado a condição de coordenador da campanha do parlamentar do então MDB Almir na eleição de 1982.

Tornaram-se amigos. Vez ou outra, os dois almoçavam num restaurante charmoso que tem ali, na rua Vergueiro- o Bacalhau do Porto. Mais do que honrar as origens dos pais em Trás dos Montes ou degustar a deliciosa culinária portuguesa, chamou a atenção de Nasci que os muros no entorno do estabelecimento haviam todos se transformados em outdoor improvisado do restaurante.

Não eram pichações, nem grafites.

Ostentavam um visual caprichado, de letras legíveis a considerável distância. “Truta a dorê”, “Badeja na chapa”, “Bacalhau a Gomes de Sá” – enfim, essas e outras atrações do cardápio eram oferecidas a céu aberto aos passantes, fossem pedestres, fossem motoristas - e olhem que a Vergueiro é uma via hiper movimentada que faz a ligação entre São Paulo e o Grande ABC.

Acendeu uma luzinha na cabeça do nosso Professor Pardal.

Como quem nada quer, Nasci assuntou os garçons sobre o resultado daquela escandalosa e colorida parafernália rua afora.

Sensacional, foi a resposta que ouviu.

Ouviu mais. Que o Sr. Duílio, o dono do restaurante, havia contratado um tal de Humberto, pintor desempregado que lá um belo dia lhe trouxe a ideia daquela propaganda fora de qualquer padrão.

Por alguns trocados, o homem fez o primeiro; depois, outro e mais outro...

Todos gostaram.

Mais. Quando foram ver os arredores do restaurante estavam tomados de anúncios.

O restaurante ficou mais conhecido. Os pratos se popularizaram.

O movimento aumentou.

O próprio Duílio, sem saber que arranjara um concorrente, garantiu que valeu o investimento.

-- Ficou bem em conta, viu!

Não preciso dizer mas digo o resto da história.

Nasci bateu e virou os quatro cantos do Ipiranga (já disse ontem – e repito: área eleitoral do vereador), depois fez o mesmo em toda a cidade. Olhos atentos a paredes e muros das principais avenidas e lugares de boa visibilidade e movimento. Por conta e risco, acrescentou à planilha fachadas de prédios e estabelecimentos comerciais que poderiam ser utilizadas futuramente.

Fez mais.

Conversou com o tal Humberto e fechou um contrato básico para ano e tanto de trabalho.

(Falei que o Sr. Duílio arranjara um concorrente.)

Na sequência, conversou também com os proprietários dos espaços que pretendia usar. Acertou um aluguel simbólico para que deixassem estampar a propaganda política do vereador Almir Guimarães. Depois da eleição, o vereador se responsabilizaria em limpar e dar uma nova pintura ao local.

A bem da verdade, ninguém entendia direito o resultado final do que Nasci estava planejando. Até então não se usava tal recurso publicitário - pintar paredes - em campanhas eleitorais.

Mas como contestá-lo?

O vereador relutou, mas acabou topando – e bancando o projeto.

Deu-se muito bem!

A partir de março daquele ano – e progressivamente nos meses seguintes até a eleição – espalhou-se pela cidade, em muros, paredes e que tais, a propaganda do vereador e o indefectível slogan:

“VEREADOR ALMIR GUIMARÃES.
Sempre presente. “

Foi um dos mais votados vereadores de São Paulo, com 82 mil votos.

 
 
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