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Título: Um texto, amigo...
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 11/04/2013
 

Quando o pai foi operado do coração, ele tinha 70 anos e foi talvez o momento de maior angústia, o mais difícil da minha vida. Eu estava com 36 anos e vi o Velho tremer na base diante da iminência da internação e cirurgia. Diante do atendente, o pai estampava um olhar chapado no nada, talvez recortasse os dias idos e vividos, talvez projetasse um efêmero futuro, talvez fosse apenas medo de tudo que teria que enfrentar – e enfrentou corajosamente.

O pai gostava tanto de viver.

II.

Voltei para casa arrasado...

III.

A operação transcorreu dentro da normalidade. Mas, o médico fez questão de chamar a mim – o homem da casa – ao invés da mãe e das irmãs para detalhar os procedimentos adotados e a situação do doente.

Foi objetivo em suas palavras.

“Fizemos um bom trabalho. O coração do seu pai, porém, estava bem mais comprometido, judiado, do que imaginávamos a partir dos exames iniciais. Não conseguimos colocar as quatro pontes de safena, como pretendíamos, pois ele não resistiria. Colocamos apenas duas, o que vai lhe permitir uma boa qualidade de vida, se não cometer excessos. Alerto, no entanto, que as próximas 48 horas são vitais para a recuperação dele. Vamos ver o que acontece.”

IV.

Não foram exatamente essas as palavras do doutor, mas o teor foi este.

Não preciso lhes dizer, mas digo: foram as 48 horas mais longas que já vivi.

Os verdadeiros amigos entenderam meu momento. Tentavam me ajudar de todas as formas. Suas palavras de coragem e fé me emocionavam, mas não chegavam a me confortar.

Eu olhava o telefone como quem olha uma esfinge...

“Decifra-me ou te devoro.”

Causava-me sobressaltos a possibilidade de uma notícia ruim no próximo instante.

Pareceu-me que nunca mais voltaria à vida normal.

V.

Felizmente o Velho recuperou-se e ainda viveu por um largo tempo, zanzando entre amigos novos e antigos, a defender o PT e o Lula de tudo e de todos (foi antes do mensalão, diga-se) e a saudar os novos tempos, sorrindo daquele jeito que lhe era peculiar, sempre que encontrava os netos e os bisnetos.

Não há receita ou forma – nem tempo ideal – para se buscar a felicidade.

VI.

Por que hoje lhes conto essa história?

Um tanto pela saudade do pai. Outro tanto porque a vida, meus caros, anda mesmo muito estranha, estranha e competitiva. Vai que alguém aí possa estar precisando de um ombro/texto amigo. Mesmo que se apenas para saber que estamos juntos, pois viver é mais do que esperar pelo amanhã. Ser feliz é uma urgência urgentíssima..

 
 
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