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Título: A atriz e o horário eleitoral
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 18/10/2002
 

"A verdade é sempre um argumento mais forte" (Sófocles)

01. Hoje o meu caríssimo leitor que me perdoe, mas quero falar sobre uma determinada senhora que ocupou nesta semana o horário político gratuito (que de gratuito não tem nada, pois somos nós que pagamos) para disseminar o terror e o medo nos telespectadores. Eis o resumo da ópera: se o dileto amigo e candidato José Serra não vencer, o Brasil se transformará num caos com a volta da inflação -- como se ela já não estivesse aí nas gôndolas dos supermercados, na conferência dos nossos extratos bancários e nos parcos caraminguás que sobram do salário no fim de cada mês; se é que sobram -- e seguirá a rota inglória de outros países da América do Sul como Venezuela e Argentina. Com os persuasivos dotes de atriz global, a moça forçou a barra da dramatização, esbugalhou os olhos e disse não conhecer o outro candidato, como se este fosse o intangível comandante das Forças do Mal que iriam destruir implacavelmente a pouca paz que nos resta...

02. Que que é isso, companheira Regina Duarte? Foi constrangedor lhe ver em cena a declamar esse script facistóide e desesperado -- tudo porque o Poder está a escapar das mãos de alguns amigos pessoais. De pronto, me ocorreram duas citações: a do dulce Mussolini no tempo da Itália facista (Para os amigos, tudo. Para os inimigos, apenas a Lei.) e a do então senador Almino Alfonso, dias antes de se consolidar a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, pondo fim a 21 anos de autoritarismo (É o desespero da derrota que se avizinha).

03. Volto no tempo para lembrar a militância de Regina Duarte na campanha para o senado no longínquo ano de 1978. O sociólogo Fernando Henrique Cardoso candidatava-se pela primeira vez -- e uma pleiade de artistas e intelectuais empenhava-se em tornar conhecido o professor da Universidade de São Paulo recém-chegado do exílio. Como repórter de Gazeta do Ipiranga fui cobrir uma caminhada de Fernando Henrique, acompanhado das atrizes Regina Duarte e Bruna Lombardi, pela rua Silva Bueno. O eleito foi Franco Montoro, mas quatro anos depois FHC assumiu a vaga no Senado, pois Montoro tornou-se governador de São Paulo.

04. Em 1985, a atriz comprou a briga pró Fernando Henrique contra Jânio Quadros. É bom que se diga não foi a única. Toda a nata da música popular brasileira -- de Chico Buarque a Djavan, passando por Gil e outros tantos -- reuniu-se para o showmício de encerramento da vitoriosa campanha de FHC à Prefeitura de São Paulo. Mais de um milhão de pessoas compareceram ao Anhembi. Enquanto isso, em algum canto da periferia da cidade, Jânio e correligionários só contavam com Moacir Franco e as Irmãs Galvão para entreter alguns milhares de adeptos num encontro político. O resultado das eleições, todos sabem. De nada valeram os laraiás do samba de Chico Buarque. Fernando Henrique tropeçou no célebre debate em que Bóris Casoy lhe perguntou se acreditava em Deus e o sociólogo ficou sem resposta convincente. Jânio levou.

05. Acho oportuno o momento para lembrar essas histórias. Mostram que Regina e os tucanos têm toda uma trajetória comum. Nenhum inconveniente nisso. Também quero deixar claro que respeito o direito de todos em votar segundo a própria consciência. E de manifestar opinião favorável a esse ou aquele candidato. Ops! Isto é uma democracia. Só que, como pessoa pública, devemos até por respeito, a quem nos ouve ou lê, nos atermos à nossa opinião. E não procurarmos seguir estratégias de marketing para ludibriar a boa fé de ouvintes/leitores. A isso, chamamos ética, quinta essência de quem pleiteia ser formador de opinião.

 
 
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