O Ministério das Boas Maneiras e do Bom Tom informa:
ESTE POST NÃO É RECOMENDÁVEL
A MENORES DE 14 ANOS.
Recomendação feita, comecemos nossa história.
Aviso logo que pertencia aos quadros redacionais do jornal onde ocorreu o fato – de inglória memória – mas, que fique claro!, não foi meu o vacilo.
Seguinte.
Numa bela tarde, chega à mesa do editor uma chamada OP. Para os leigos no jargão das redações, OP significa Operação Portugal.
Não me perguntem o porquê. Chamam assim as matérias de cunho publicitário ou que tenham algum interesse não-jornalístico, encomendadas por algum figurão ou pelo departamento comercial.
Tipo: a conhecida da irmã da namorada do filho do dono do jornal escreveu um livro sobre “Dicas de Como Ser a Conhecida da Irmã da Namorada do Filho do Dono do Jornal e Ser Feliz” e aí chega uma OP na mesa do editor vinda diretamente da secretária do filho do dono do jornal para que se “cubra o lançamento dessa importante obra”.
No jornal do dia seguinte, pode até sair apenas umas cinco ou seis linhas em Notas, num canto qualquer do caderno de cultura. Mas, é indispensável a presença do repórter e do fotógrafo na noite de autógrafos. Para dar aquele status de celebridade à moçoila e espocar alguns flashs na fuça da dita-cuja e de seus convidados, incluindo aí o filho do dono do jornal.
Me dizem hoje que as redações andam enxutas. E o repórter está livre da sina. Mas, o fotógrafo e os BLs são indispensáveis.
Tecla sater:
BL quer dizer “banho de luz”. À época em que as câmeras não eram digitais – portanto, usava-se filme –, era uma espécie de diversão com os chamados ‘papagaios de pirata’ sair dando flashs em todos os presentes, mas sem filme na máquina. Eles ficavam felizes e na manhã seguinte corriam às bancas para ver se saíra a foto que, na verdade, nunca existiu.
Mas, voltemos à nossa história para não me perder em reminiscências.
Eram mais comuns as pautas de algum anunciante. Para encher a bola do cara e assim, com o ego devidamente lustrado, anunciar mais e mais.
Foi uma dessas OPs que chegara naquele dia. Dizia o seguinte em termos gerais:
“Fazer uma entrevista com a esteticista Fulana de Tal, rua X, número Y, às tantas horas. Sem Falta. Ela vai falar sobre a inauguração recente e o funcionamento da Clínica Estica e Puxa (nome fictício, claro). Teremos a última página inteira (o jornal era tablóide) dedicada à empresa. Levar fotógrafo. Importante: não usar “chapéu” de Informe Publicitário.”
Óbvio que ninguém quis fazer a tal matéria.
Repórteres entravam e saíam – e o editor tentava aliciá-los. Primeiro, tipo chefão mesmo. Na base da imposição. Com as negativas sucessivas, ele aliviava. No fim, estava quase implorando.
Mas, o pessoal continuava convicto:
-- Quer mandar embora, manda. Mas, não vou fazer.
* Amanhã continua... |