Acabo de chegar, agora agora, do barbeiro.
Feliz que só...
Um amigo do Velho Aldo, meu pai, lá estava – e nos encontramos por um desses casos do acaso.
Ŕ minha chegada, os olhos do homem brilharam.
Descobriu em mim traços da fisionomia do amigo, que faleceu em 1999 – e se emocionou.
Por instantes, ouviu-se o silęncio cerimonioso.
Em seguida, permitam-me a imodéstia, vivemos momentos de encantamento, no dia consagra ŕ Saudade que hoje, 30 de janeiro, é.
Ele se pôs a falar das façanhas do Aldăo que năo eram poucas – e irremediavelmente aconteciam na esquina da avenida Alves Guimarăes com a rua Oragnoff, em Săo Bernardo do Campo.
Uma delas era a discussăo acalorada – que năo temia – em defesa do entăo eterno candidato a presidente, Luiz Ignácio Lula da Silva. Esclareço que o Aldăo năo era metalúrgico, mas apostava em Lula, que năo chegou a ver presidente.
-- Ele precisava estar muito mal de saúde para năo fazer piadas e rir de tudo e de todos, inclusive dele mesmo.
O pai morreu aos 82 anos do coraçăo, ao meu lado, num dia primeiro de setembro. Eu o levava para o Instituto Coraçăo.
Foi um homem comum, bem ao estilo de seu tempo. Estudou até “o terceiro ano primário”. Na juventude, jogou de “center-foward” no Atlantic e no Primeiro de Maio. Era palmeirense, mas năo fanático. Trabalhou até aposentar-se “numa fábrica de pano”. Sempre morou de aluguel, nunca teve automóvel. Criou tręs filhos.
Viveu modestamente, enfim...
Năo foi escravo, e nunca foi senhor. Mas sempre soube fazer amigos.
Foi o legado que me deixou...
Quer dizer, foi esse o legado que deixou para mim.
Para os amigos, além da saudade do olhar sereno, deixou algo mais.
Deixou um palpite:
Todos os dias cravar a centena 291 no jogo do bicho, coisa que o Aldăo fazia religiosamente. |