A princípio, fiquei surpreso.

Depois de alguns minutos, à medida que caminhava, me acostumei ao novo visual dos postes dos arredores da rua onde moro. Todos estavam (in)devidamente empapelados com cartazes, do tipo lambe-lambe, que alardeavam em letras garrafais:

TAROT

AMARRAÇÃO PARA O AMOR

PAI ZUZU

TRAGO A PESSOA AMADA
DE VOLTA EM TRÊS DIAS

TEL. ***********

II.

Tranqüilizem-se amáveis cinco ou seis leitores.

Não conheço o distinto e – vocês me conhecem de outros posts –, portanto jamais me atreveria a fazer ‘merchan’ de duvidosos poderes.

A bem da verdade, lhes digo.

Espanta-me que, em pleno século 21, de tantos progressos científicos, medicinais, e espaciais, com as novas tecnologias à nossa disposição desbravando o cyberespaço, alguém ainda acredite nessas mandingas.

III.

Quer dizer...

Pensando bem, faz sentido a propaganda do Pai Zuzu que, como já disse, não conheço, não sei quem é, de onde veio e para onde vai, depois de atender a uma penca de gente com o cotovelo inflamado e o coração à mingua.

IV.

Explico.

Nenhum dos avanços acima mencionados, por mais profundos que sejam, encontraram quaisquer vestígios que sejam para curar, assim de imediato, as dores infinitas de um bem levado pé na bunda.

V.

Que atire a primeira pedra, Yaya, aquele que não sofreu por amor.

Aquele que não balangou no vagão dos tristes, e preteridos.

Que, no auge da inexplicável queimação, não pensou em valer-se do socorro do intangível.

Ou seja: não pensou em pedir ajuda ao primeiro Pai Zuzu que lhe aparecesse à frente.

VI.

De resto, é até bom que existam mesmo tantos e tamanhos Pais Zuzus – e que eles invistam pesadamente no marketing de seus transcendentais serviços.

Em tempo de crise, como os atuais, toda frente de trabalho é sempre alvissareira.

Imagino o exército de gente que varou a madrugada na colação desses cartazes.

VII.

Depois, vai que o homem tem lá mesmo seus poderes.

Vocês já imaginaram o bem que pode causar a humanidade.

Já imaginaram o tanto de dupla breganejas que desapareceriam (aleluia!) se todos os amores perdidos se reencontrarem.

VIII.

Só por nisso acho que vou divulgar o telefone do Pai Zuzu...


FOTO no Blog: Caio Kenji