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-- Jabe, o quê?
-- Jabulani, doutor escrivão. Jabulani. Igual ao nome da bola do Mundial. Sabe, qual? Aquela que ta na boca do povo, para o mal e para o bem.
-- Não, não posso aceitar. Esse cartório de registro tem história e tradição. Vem de pai pra filho desde antanho. Não será agora que vamos cair na boca do povo por causa de um pai desnaturado, sem juízo, que quer dar à uma pobre recém-nascida o nome de uma bola de futebol.
-- Não, sou eu, não, doutor. É o que todos dizem quando vêem a danadinha. Toda jeitosinha, rechonchuda que só. Uma graça.
-- Não entendi...
-- É que o tio, a tia, os irmãos, os amigos chegados e os não chegados. Basta um olhar e, parece até que ensaiaram, soltam aquela voz que imita o Cid Moreira... Jabulaaannniii. Minha patroa não gostou nada a princípio. Pensou que era deboche. Mas, hoje, qual o quê, até ela chama a menina de Jabinha, diminutivo carinhoso de... Jabulaaannniii.
-- O senhor não tem juízo mesmo. Ou muda de nome ou não tem certidão de nascimento. Onde já se viu?
--Para ser sincero, ver mesmo, direitinho, eu não vi. Porque a TV em casa ainda é em preto e branco. Mas, faço gosto, sim! Estava querendo mesmo um nome original. Acho mesmo que Jabulani Aparecida de Silva e Souza fica bom. Parece até nome de gente distinta, não é?
-- Não é. Claro que não é... Não tem alguém mais responsável com quem eu possa falar para que o senhor desista dessa ideia tola? Um dos avós, por exemplo...
-- Só um deles está vivo. É o pai da minha patroa, o Sr. Zelão. Mas, não sei se vai adiantar.
-- Não sabe por quê?
-- É que desde que a menina nasceu ele está feliz que só. Vive fazendo um barulho infernal com a história de que é avô da Jabulani e só atende se for chamado de Vovô Zela...
** FOTO NO BLOG: Jô Rabelo |