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Almeidinha era tímido, mas nunca foi santo, embora ultimamente e por força das circunstâncias andasse no caminho, digamos, da beatificação. Desconfiou que talvez pudesse reviver os bons tempos em que, mesmo tímido, era o Rei das Cantadas – e cantou:
-- Vida, sonhos, amores... Complicado, hein! Acho que você precisa mesmo de um professor.
Ela também sabia jogar o jogo e a resposta não poderia ser mais sugestiva:
-- Você conhece algum?
Fez-se um silêncio cúmplice e gostoso entre ambos.
Pena que alguns desavisados quebrassem o clima ao se aproximarem para, sem serem chamados, participar do assunto que em nada lhes dizia respeito.
-- E aí os dois de segredinhos? Também queremos saber das novidades...
Ambos sentiram-se desconfortáveis com a presença dos inconvenientes que, por persistirem ali, se tornavam mais inconvenientes ainda.
Ela então se levantou como se houvesse dado a sua hora.
-- Vou indo... Foi um prazer revê-los.
Olhou para Almeidinha – e só para o Almeidinha – e antes de partir disse:
-- Eu volto pra gente terminar esse papo, mestre.
-- Atrapalhamos alguma coisa? - comentaram os obtusos rapazes, assim que a moça se afastou.
Insinuaram desculparem-se pela obtusa intromissão, mas ele dispensou a hipocrisia dos idiotas e fez um sinal com as mãos que estava “tudo bem”.
No preciso momento em que se viu só, o homem das gravatas fininhas, fininhas, de cores sóbrias, que mal escondiam as marcas indeléveis do coração apaixonado, lamentou que não haveria a tal volta. Já vivera o suficiente para saber que há coisas que sim e outras que não.
Ademais, como ele gostava de dizer, estava naquela idade em que tanto faz o sim ou não das coisas.
** FOTO NO BLOG: Bariloche/arquivo pessoal |