O senhor e o filho moço entram no elevador.
Devem ser novos no prédio onde moro.
Ele traz um jornal na mão, e ares de explosiva indignação.
-- Isso não vai ficar assim, você vai ver.
O rapaz permanece calado, pensativo.
O homem prossegue em alto e bom som:
-- Vou procurar a Defensoria Pública. Vou expor a situação. Alguém precisa dar um fim nesses abusos. Eles pensam que são poderosos... quer dizer, que podem tudo.
O assunto começa a me interessar. Mas, fico na minha. Como se não estivesse ali, passageiro da jabirosca que sobe lentamente andar por andar.
O desabafo tem endereço certo.
-- Só porque se dizem ‘pastores’ da igreja tal acham que estão acima da lei. É preciso por fim nessa enganação. Aproveitam-se da boa fé dos brasileiros, humildes e sem instrução. Alguém precisa dar um basta... Eu vou denunciar essa corja. Farei a minha parte...
O elevador estanca – e a dupla desce no andar desejado.
Só, então, desconfio, o senhor se dá conta da minha presença.
Antes de soltar a porta, um tanto sem graça, resolve mostrar-se gentil.
“Boa tarde”, diz amenizando o tom de voz.
Eu não resisto – e, na resposta, ouso correr o risco de uma provocação:
-- Boa tarde, senhor. Que Deus o acompanhe, guie e guarde!
Em seguida, a porta se fechou e o elevador voltou a funcionar.
Mas, deu tempo de ver a expressão de perplexidade estampada no rosto do meu interlocutor.
Foi a minha maneira de lhes dar boas-vindas. |