Só a primazia de ser o intérprete da gravaçăo original de “Garota de Ipanema” garante a Pery Ribeiro lugar de destaque no panteăo de nossa música popular.
A bem da verdade, o filho de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins teve um início de carreira dos mais promissores no início dos anos 60. Enfileirava um sucesso após o outro – entre eles, “Samba do Orfeu”, “Manhă de Carnaval”, “Inteirinha”, “Meu Nome É Ninguém”. “Rio” e “Berimbau”. Até que uma abrupta mudança no cenário cultural (e por que năo também político?) deslocou Pery da linha de frente. Movimentos como a bossa nova, a música de protesto e, principalmente, a Jovem Guarda roubaram o espaço de cantores classudos, de timbre forte e interpretaçăo algo derramada.
Pery năo resistiu ŕ varredura.
Mesmo consagrando hits da bossa nova (“Barquinho”, Samba do Aviăo, “Vocę”), ele năo era propriamente um bossanovista da gema.
Por opçăo e vontade, preferiu passar longe das cançőes engajadas e, convenhamos, era “madurăo” demais para frequentar as rodas do ię-ię-ię.
Resultado: curtiu ŕ distância – e num certo ostracismo – a virada dos 60 para os 70 e por aí tocou sua carreira. Desde entăo, trabalhou em projetos que lhe interessavam. Fez parte do grupo de Sérgio Mendes, cantou com Burt Bacharach, Johnny Mathis e Herb Alpert em temporadas internacionais, além de consagrar uma sólida parceria com Leni Andrade em diversas apresentaçőes.
Pery Ribeiro morreu ontem, aos 74 anos, longe da mídia e dos holofotes.
Perdemos um grande intérprete. |