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Bittencourt, o Invicto
07/04/2014
 

“Se năo tem tu, vai tu mesmo.”

Bittencourt era um dos nossos – assim mesmo com dois tęs, além do tę mudo no final.

Nem por isso escapava ŕs gozaçőes do Escova que se invocava com os motivos que levaram a bela Leninha a casar com o amigo.

“Na falta de coisa melhor, o Bittencourt foi o primeiro que deu mole e falou em casamento.”

II.

Escova tinha lá seus argumentos,

E, por força da minha sinceridade para com meus amáveis cinco ou seis leitores, devo reconhecer que muitos de nós, os freqüentadores daquele Sujinho, concordavam com o Escova.

O Bita năo era de chegar forte na mulherada. Dava uns vacilos legais e colocava defeitos em todas as que se aproximavam.

Há tempos năo o víamos com mulher alguma.

Na base do bullying, o apelidamos de ‘Bittencourt, o Invicto’.

III.

O próprio năo se incomodava.

“Năo sou como vocęs, quero uma mulher especial – e estou me guardando para ela.”

Imaginem a vaia que ouvia quando tentava se defender com essa conversa.

Escova era o mais perverso.

“Mas, cara, se vocę năo praticar, vai ficar fora de forma. Quando chegar a princesa que vocę tanto espera, vocę năo vai dar conta.”

IV.

Acontece que, dia vai, dia vem, Bittencourt chegou com a boa nova (para ele): encontrou a mulher dos seus sonhos e ia casar.

Conhecemos Leninha na cerimônia de casamento – e ficamos encantados com a moça.

Escova foi peremptório.

“Tem alguma coisa errada aí. É muita areia pra caçambinha do Bitta.”

E tascou lá suas conjecturas:

“A mulher tá no desespero.”

“Tomou um fora de algum bonităo – e resolveu apelar.”

“Năo dura seis meses.”

V.

Alguém deu um ‘chega’ no Escova:

“Cara, vocę está se mordendo de tanta inveja.”

VI.

Para encurtar a história que já está longa, o Bitta casou e mudou. Saiu do jornal, montou uma empresa de năo-sei-bem-o-quę “para ficar mais perto da mulherzinha adorada”.

Nunca mais o vimos, nem soubemos dele.

VII.

Semana que passou, encontro o Escova todo macambúzio e triste nas proximidades da Estaçăo do Metro, encalacrado no sucedâneo do Sujinho que năo mais existe – e que era nosso ponto de encontro, onde o Sacomă torcia o rabo e o Fábrica/Pinheiros rangia e bufava na curva.

Quis saber do amigo o que motivou “a cara de poucos amigos”.

Ele me respondeu seco:

- Encontrei o Bitta...

VIII.

Fiquei preocupado.

- E aí algum problema? Ele está bem de saúde? A mulher o deixou? Faliu a empresa?

- Nada disso, compadre. O homem está que é um touro, muito mais bem cuidado que nós... e cheio de filho.

IX.

– Entăo qual o problema?

- O problema é que errei feio na previsăo.

 
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