Sou de 45.
Nasci quando a bomba estava caindo em Hiroshima.
Sou da geração sanduíche e tenho que me adaptar aos surfistas e ao que pensa meu pai. Uma barra.
(...)
Venho a São Paulo para apresentar o novo disco, o que, em essência, significa a continuação da Sociedade Alternativa, o movimento que tínhamos em 73, eu e o Paulo Coelho, meu parceiro.
Ele agora está morando em Londres. Em 74, houve um ‘problema’ aqui com a gente e nós tivemos que sair. Fomos morar em Nova York. Demos um tempo por lá. Depois voltamos, e eu resolvi ficar, e continuar com a Sociedade Alternativa.
O Paulo preferiu ficar na Inglaterra de vez. Não volta mais.
(...)
Não sei se você sabe, quando vim para o Rio, não foi para ser cantor.
Vim para editar um traçado de filosofia pela Civilização Brasileira.
Sou formado e professor em filosofia.
Mas como lançar um livro é um negócio extremamente difícil, e de alcance bem restrito, vi que a coisa era muito reduzida, tipo público de teatro, então resolvi fazer a mesma coisa por meio da música, por meio do disco.
Porque a música, sim, é uma coisa bem incisiva.
Um meio muito mais rápido, que passei a utilizar para dizer o que pretendo.
Para deixar minha impressão digital nesse mundo. Para fazer valer minha razão de viver ou não, entende?
Afinal, tracei uma meta , e tenho que ir até o fim.
*Depoimento de Raul Seixas a este repórter nos idos de 1977 quando veio a São Paulo para lançamento do disco O Dia Em Que A Terra Parou. Raul hoje teria 69 anos.
O cantor/compositor morreu em agosto de 1989. |