Vila Madalena. Uma noite dessas em um bar qualquer daqueles que reúnem os descolados da vez.
Importante especificar o grupo de amigos: profissionais liberais, jornalistas, professores universitários, um publicitário e até uma linda doutora a chamar a atenção de todos e dos que estão nos arredores.
Um breve perfil.
São o que se convencionou chamar de os descolados, descolados mesmo.
Características: não ouvem axé, nem sertanejo pop, ainda fazem ressalvas à TV aberta (exceção se forem convidados a trabalhar em uma das emissoras), e só assistem às séries importadas na TV por assinatura.
Ideologicamente, estão desiludidos com o PT, mas desconfiam dos ‘tucanos’. Alguns votaram na Marina nas últimas eleições; outros anularam o voto em pelo menos um dos dois turnos.
Andam sem assunto para discutir. Cansados que estão do mesmo lesco-lesco dos noticiários, não encontram disposição para falar das frequentes viagens (até porque todos já foram aos mesmos lugares e têm a mesma impressão sobre monumentos, points e programação cultural).
A noite está um porre.
Nem a Casa do Saber e sua programação intelectualóide dão consistência à conversa da rapaziada.
Alguém propõe falar sobre os filmes que estão em cartaz na cidade e que concorrem ao Oscar.
“Óbvio demais”, Dézinho se insurge.
Nem o livro do Chico (Meu Irmão Alemão) causa maior comoção.
“Mais do mesmo”, diz outro, visivelmente contrariado.
Todos estão presentes – então, fica difícil falar mal de alguém presente. Ano sem Copa do Mundo, sem eleição, sem... graça. Um tédio!
Alguém propõe, então, um desafio para motivar os ânimos.
Um a um, cada qual deverá responder o quê ou quem levariam para uma ilha deserta.
Acredite, se quiser, caríssimo leitor! O celular (com bateria especial que não se esgota) ganhou por unanimidade. Ou quase!
Só um dos presentes, o Cadu, ousou convidar a linda doutora para compartilhar a aventura com elezinho.
- Melhor, não, Cadu. Sem chance, respondeu a moça. – Até porque, se nessa ilha, estivesse eu, você e um jacaré, desculpe, meu caro, eu ia preferir o jacaré. |