A moça bonita sai da Estação Sacomã do Metrô apressada. Atravessa a rua e se perde na esquina da rua Agostinho Gomes. Não se dá conta que, em um dos botecos do lugar, o olhar do amigo Escova a acompanha a cada passo, guloso e desconsolado:
“São nesses momentos em que a gente percebe o que se perdeu na vida”.
Dá para entender o desconsolo do amigo.
Em outros tempos, Escova era aclamado com o honório título de Dom Juan das Quebradas do Sacomã e, todo faceiro, sairia à caça da lebre e, por mais incrível que possa hoje parecer, o cara dava bem na maioria das vezes.
Tento confortá-lo e argumento que, àquela época, a Estação do Metrô não existia por ali. Bem na esquina da Bom Pastor com a Greenfeld ficava o “Sujinho”, onde nos reuníamos.
Por tanto, a chance de a moça aparecer por ali era zero.
“Não perdeu nada, amigo” – tento mais uma vez animá-lo.
Continuamos ali em silêncio. Escova pede outra “cerva” para afogar as mágoas.
Eu brinco com a latinha de Coca zero sem ter mais o que dizer.
Minutos depois, Escova assume ares de decisão – e diz com todas as letras:
“Preciso de um ano sabático. Está faltando agressividade e objetividade aos meus ataques. Deu certo com o Tite (o técnico do Corinthians). Por que não vai dar certo comigo? O quê que há? Estou no jogo ainda, amigo”.
Eu, hein!
Não quero magoar o amigo. Mas, não resisto à oportunidade de perguntar a ele com quem e onde ele faria a reciclagem. Tite escolheu, entre outros, o Ancellotti, trécnico do Real Madrid (que ontem tomou um sapeca do Shalke 04). Sugiro que Escova procure um tal de Casanova, em Veneza.
- Desconfio que são contemporâneos, provoco.
“Você não está me levando a sério”, diz. “Não é um romântico inveterado como eu, nem imagina como, para mim, é difícil viver sem uma grande paixão.” |