Trinta anos – e eu ainda aqui a batucar letrinhas – agora no teclado do computador, e não naquele da velha Olivetti - que, de um jeito ou de outro, levem o País a ser “o Brasil de todos os brasileiros”, expressão que um dia ouvi do teatrólogo e então secretário municipal de Cultura, Gianfrancesco Guarnieri,

Um dia antes de 15 de março de 1985, entreguei minha coluna, “Caro Leitor”, para publicação no jornal que saíria no dia seguinte dizeres:

“Tomara mesmo que a Nova República que hoje se inaugura, com a posse do presidente Tancredo Neves, seja verdadeiramente marco de um novo tempo. Melhor ainda se for, como se presume, não apenas de Tancredo e equipe, mas, sim, a Nova República de todos os brasileiros.

Os anos de arbítrio e prepotência deixaram marcas profundas em nossa gente (...)”

A Redação estava feliz naquela quinta, dia 14. Escolhi a melhor foto do Doutor Tancredo para ilustrar a primeira página. Projetei-a no diagrama com quase 25 centimetros de altura. Uma ousadia. Ao lado, os textos do editorial do jornal davam a sensação a todos nós, jornalistas de um pequeno jornal de bairro paulistano, de estarmos cumprindo a nossa função social.

Anunciávamos o fim da ditadura no País.

Eu, particularmente, me sentia um privilegiado.

Pena que o dia seguinte nos reservasse uma ingrata surpresa.

Tancredo não tomou posse.

Mas, sobreviveu a esperança.

Trinta anos depois, não sei se posso falar o mesmo.

Ao ler o jornal de sábado, descobri uma nova expressão.

"O País vive um desotimismo”, definiu sabiamente o publicitário Washington Olivetto.

Talvez seja isso.

Talvez seja falta de representatividade.

Talvez seja falta de perspectiva.

Talvez seja simplesmente falta de acreditar.

Talvez seja tudo isso – e muito mais.

(Me contam que mais de um milhão foram às ruas em São Paulo para derrubar o governo.)

Temo pelo retrocesso.

O Brasil de todos os brasileiros pode não passar de uma utopia.