Saio ainda emocionado – e algo confuso – do Teatro Alfa, onde na tarde de sábado assisti ao espetáculo “Chacrinha, O Musical”. É bem melhor do que este modesto escriba – e sobrevivente daqueles tempos da Discoteca, da Buzina e do cassino– poderia imaginar.
Acompanhei a trajetória do Velho Guerreiro ŕ distância; primeiro, como telespectador (năo tăo frequente, mas interessado); depois, como repórter na área de Variedades (cheguei a entrevistá-lo nos tempos em andou pela TV Bandeirantes e buscava divulgar o programa em todos os jornais paulistanos).
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Năo imaginava, no entanto, o quanto de mim seria redivivo naquelas duas horas e tantos de musical: as cançőes que embalavam o garoto de vinte e poucos anos, a alegria anárquica de um auditório ululante, o samba do Gil (“Aquele Abraço”), as chacretes... Ah, as chacretes.
Năo sei explicar.
Mas a personagem contraditória, tragicômica, de Chacrinha balançando a pança tem muito a ver com todas as incoeręncias daquele tempo nebuloso. No fundo, no fundo, Chacrinha só queria nos encantar e fazer com que entendęssemos que, brasileiramente, o show tinha que continuar. E éramos, sim, os protagonistas de um
País único, miscigenado e desbundante.
“Alô, alô...
Terezinhaaaaaaaaa!!!
Uhuhuh...”
II.
Falei que me vi ali, digamos que aos pedaços, porque passei o tempo maravilhado entre a cena que via no palco e as recordaçőes de um tempo vivido, com todas as controvérsias e as realizaçőes que eram permitidas. Ou năo.
Corria uma página infeliz da nossa história. Vivíamos em pleno regime ditatorial, mas desconfio: nunca se sonhou tanto quanto naqueles dias. Havia a crença de que era possível a construçăo de um País de todos os brasileiros.
Năo me perguntem como, mas era assim.
“Eu vim para confundir
Năo para explicar.”
III.
A trilha sonora é um capítulo ŕ parte.
Faz com que a plateia exploda de alegria com os hits que a Discoteca do homem consagrou. Chega ao delírio quando o cover de Gonzaguinha entra no palco entoando o célebre refrăo:
“Viver e năo ter a vergonha de ser feliz.”
Raramente vi tamanha cumplicidade do público ao manifestar-se em coro de forma tăo verdadeira, tăo mágica.
Talvez porque, nos dias de hoje, andamos mais envergonhados do que feliz, apesar de tantos avanços, de tanta tecnologia, de tanta modernidade, de tanto politicamente correto, de tantos sonhos desfeitos.
Se puder, năo deixe de ver.
“Quem năo se comunica
Se estrumbica.” |