Rapaz, desconfio que me empolguei um tantinho ao escrever o texto de ontem.

Acontece!

Passei o dia todo ruminando as lembranças da Velha Redação que não deu outra: à noite, sonhei que estávamos todos de volta e às voltas com uma quinta-feira de fechamento ferrado.

O que me chamou atenção é que a Redação tinha quadruplicado de tamanho – e estávamos todos lá. Repórteres de todas as gerações reunidos a batucar nossas valentes Olivettis em busca da notícia da semana.

Espero que me entendam. Mas, não vou declinar o nome desse ou daquele para não cometer a lambança de esquecer alguém. Primeiro porque a Velha Redação parecia não ter fim mesmo – e eu não me dei ao trabalho de percorrê-la toda. Segundo porque a sonzeira das máquinas de escrever era ruidosa e, por vezes, estonteante (Aos meus ouvidos, uma sinfonia). E, por fim, porque durante os fechamentos eu, como editor-chefe, era o mais estressado com o bom andamento de tudo e o passar do tempo.

Tínhamos horário para “fechar” as páginas e entregar a edição para gráfica.

Olaiá... Que saudades!

II.

Naquela quinta (a do sonho), porém, algo me chamava a atenção – e me preocupava. Eu sabia que era uma edição especial. Os diagramas das páginas iam se avolumando sobre a minha mesa. Estávamos todos trabalhando, mas, curioso, ninguém me aprontava a matéria e o relógio, ó, toc, toc, toc... só comendo o tempo.

Fingia que escrevia o “Caro Leitor”, minha coluna semanal, mas mantinha o olho vivo na rapaziada. Que, por sua vez, nem aí, continuava empenhadíssima no alinhavar de letrinhas.

Foi me batendo uma incontrolável ansiedade.

Mais uma penca de diagramas sobre a mesa – e sequer uma linhazinha para diagramar. Tem algo de estranho nisso tudo, pensei. Esses caras estão me sacaneando (novidade!), todos com cara de paisagem (como ficaram no dia em que me aprontaram uma festa surpresa de aniversário)... Aí tem...

Pensei em dar um esporro generalizado, que não era hora de brincadeira, que tínhamos horário de fechamento, que isso e aquilo e as fotos?, cadê as fotos?

III.

Rapaz, nesse delírio todo, acordei a mil.

Fiquei um pouco aliviado por ser apenas um sonho bom, outro tanto fiquei triste por ser apenas um sonho bom.