Sign up with your email address to be the first to know about new products, VIP offers, blog features & more.

40 anos sem Mané

Foto: Reprodução/Portal Trivela

Ora o futebol é a mais feia, a mais cruel, a mais tenebrosa das paixões. E, de repente, Mané apareceu. Todo o povo exultou porque o seu jogo tinha milhares de guizos radiantes. Diante dele, o torcedor esquecia a sua ira vespa e pornográfica. Só com o Mané a multidão aprendeu a rir, só com o Mané a multidão deixou de ser neurótica obscena.

De mais a mais, não foi só a volta triunfante. Era a ressureição. O Lázaro jucundo acordava da morte. E sentimos, todos, que era o mesmo. Sua decadência seria a nossa, e sua impotência, idem. Sem ele, a Nação se derramava com cântaro entornado. Mas o Mané ressurgia em estado de graça plena. No momento em que ele e Pelé fizeram, num canto do Maracanã, um olé solitário, solitário e perfeito, como o canto de cisne, até a inflação bateu palmas. E todo este povo sentiu-se onipresente.

* Trecho da crônica Os Guizos Radiantes de Garrincha, de autoria de Nélson Rodrigues (1912/1980), incluída no livro A Pátria em Chuteiras – Novas Crônicas de Futebol, publicado pela Companhia das Letras em 1994. Seleção de textos e notas de Ruy Castro.

O texto narra a reestreia de Garrincha na seleção brasileira em junho de 1965. O craque estava afastado do escrete desde o final da Copa do Mundo de 1962 por contusões e/ou problemas pessoais.

Àquela altura, muitos já o davam liquidado para o futebol em função da prolongada ausência.

Garrincha (Manoel Francisco dos Santos, 1933/1983) ainda chegou a disputar o Mundial de 1966 na Inglaterra, mas sem o brilho de outras copas.

Ocorre-me revisitar os textos – sempre deliciosos – de Nélson Rodrigues porque o futebol faz parte da minha/nossa cultura. Queiramos ou não, faz parte do cotidiano e pulsa nossas emoções.

Por outra, uma singela reverência ao incomparável Mané Garrincha.

Há 40 anos perdíamos um dos dois maiores representantes do futebol brasileiro.

Um pitaco, se a rapaziada de hoje me permite e perdoe.

Não há nada que se compare em termos da crônica esportiva ao incrível Nélson Rodrigues.

Bons e imaginosos textos passam ao largo das editorias de Esportes atuais.

Os tais ‘professores de Deus’, na definição feita por Abel Ferreira, não andam lá, digamos, numa fase das mais inspiradas.

Registro que as eventuais exceções, só confirmam a regra.

Por fim – e enfim… Acrescento que Pelé e Garrincha foram os melhores futebolistas que vi em campo. Mágicos, imprevisíveis, vencedores, puro encantamento num tempo que futebol era arte e um dom quase divinal.

Quem os viu em campo, viu…

Quem não, talvez o YouTube lhes dê uma brevíssima ideia do que foram – e, historicamente, sempre serão.

(Por favor, não me venham com mapa de calor, números, análises de desempenho e outras burlescas análises. Vale para os pseudos craques dos dias atuais, nunca para Pelé e/ou Garrincha.)

Ainda nenhum comentário.

O que você acha?

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Verified by ExactMetrics