EM NOME DA PAZ
Ela:
— Você está feliz?
Ele:
— Estou sossegado, em paz.
Ela:
— Sossegado não é feliz.
Ele:
— É quase isso.
Ela:
— A gente era feliz.
Ele:
— Mas, não tinha sossego…
II.
EM NOME DA POESIA
E lá estava aquela jovem senhora
a ouvir Marisa Monte cantar
“Cantinho Escondido” e,
sem querer, se pôs a lembrar
de um certo cantinho escondido…
Ai, ai, ai…
Então, ficou mais atenta
à letra e, quando terminou a canção,
surpreendeu-se.Estava diante
do espelho a conversar
com aquela outra, que lhe pareceu
mais jovem e menos senhora
do que se acostumara a ver.
É que, na verdade, aquela
era a sua face poeta que
insistia em lhe dizer
algumas boas verdades.
“Ei, moça, repare.
Dentro de cada pessoa
existe um cantinho escondido
decorado de saudade…
Um endereço que freqüente
sem morar na esquina
dos Sentimentos Oblíquos
com a Alameda da Razão…
Me desculpe a intromissão.
Aliás, me desculpe por tudo.
Pelas bobagens,
pelos sonhos,
pela esperança
de que o mundo ainda
pode ser diferente…
Mesmo que tudo continue
aparentemente igual.”
III.
EM NOME DO TEMPO
Na esteira do revival de 1968,
o ano que não terminou,
vou lhes confessar algo…
Sabem aqueles versos famosos…
“Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer.”
Isso! Os versos da canção
que alvoroçou o Festival
Internacional da Canção em 1968,
pois lhes digo que hoje
os tais me incomodam.
Simples.
Valem como refrão de música
de protesto. Animaram passeatas
e manifestações e se transformaram
em palavra de ordem.
Mas, hoje…
… os tais me incomodam.
Convenhamos, não servem
como regra de vida. Explico.
O tempo é senhor dos destinos.
A vida tem o tempo certo
de acontecer
Mesmo quem sabe
precisa esperar a hora certa
para acontecer.
Senão, planta antes
e não colhe nada depois.