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Velhos jornalistas

Não vou lembrar o ano. Mas, faz tempo. Não existia o São Google para consultas imediatas de terceiro grau. Aliás, nem computadores havia nas redações. Eram tempos da velha máquina de escrever. O fotógrafo era chamado de “lambe-lambe” e o repórter de “canetinha”. Assim nos divertíamos enquanto cortávamos a cidade atrás de uma “matéria” que desse primeira página no dia seguinte. Tínhamos hora para entrar – ali por volta das 13 ou 13h30 –, nunca para sair.

Era garoto – pouco mais de 20 anos – e sentia um baita orgulho de ser jornalista. Um orgulho que cresceu ainda mais quando conheci um velho jornalista aposentado. Chamava-se Flávio Xavier de Toledo e, em tempos idos, fora redator do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro. Era um senhor distinto, elegante que, àquela altura da vida, morava no pacato bairro do Jardim da Saúde, zona sul de São Paulo

Aliás, era o motivo do encontro. Ele queria dar uma força para os movimentos populares que reivindicavam melhorias para a região e, jornalista que era, fez questão de me dizer, a primeira coisa que pensou em fazer foi contatar a imprensa “para apoiar a causa”.

— A imprensa, filho, é a expressão do pensamento social.

Achei a frase bonita. Mas, formal demais para quem, como ele, participou da revolução que o JB promoveu no jornalismo brasileiro em meados dos anos 50, com a introdução do lead, a valorização do planejamento gráfico, entre outras conquistas.

Anos 70. A ditadura a impor os rígidos limites da censura à Imprensa. A sociedade desinformada – e, provavelmente por isso, silenciosa. Os jornais a estampar receitas de bolo e versos de Camões no lugar das reportagens vetadas pelos censores. A resistência de artistas, intelectuais, estudantes e bravos jornalistas.

Flávio era um deles.

Com essa iniciativa, queria agrupar os moradores do Jardim da Saúde em entidades representativas e, a partir daí, ter mais peso nas decisões Era bonito vê-lo fiel ao sonho de transformação social que, àquela altura, era assunto presente em todas as rodas de profissionais de Imprensa.

Andamos pelo Jardim da Saúde. Entrevistei moradores e comerciantes sobre os problemas locais e sugestões para resolvê-los. Alguns se transformaram em líderes comunitários, como preconizou o jornalista. Lembro ter destacado o trabalho do Plenário da Zona Sul, que tinha como presidente o médico Eduardo Campos Rosmaninho.

Foi uma matéria simples, mas gerou frutos.

Gostei de escrevê-la.

— A imprensa, filho, é a expressão do pensamento social. Mas, nunca o jornalista pode ficar refém da opinião pública…

Aprendi tanto com o jornalista Flávio Xavier de Toledo.

E ainda ganhei de presente um pequeno boton, desses que se usavam na lapela do paletó.

Era da Ordem dos Velhos Jornalistas.

(* Amanhã continua…)

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