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As canções do Roberto 5

Roberto participou do Festival de Música Popular Brasileira de 1967.

Já era um nome consagrado popularmente.

Mais do que consagrado, diga-se.

Mesmo assim, topar enfrentar a ululante platéia desses encontros não era experiência das mais agradáveis.

Havia um racha na turma que fazia o programa O Fino da Bossa, comandado por Elis Regina.

Imagine um roqueiro da Jovem Guarda dar as caras por ali?

Uma roubada.

A própria Elis chegou a liderar uma passeata contra a “invasão alienígena” das guitarras elétricas. Defendia que MPB se toca com violão e instrumentos acústicos.

Existiam divergências entre conservadores e, digamos, moderninhos (os futuros tropicalistas) que flertavam com o som livre de fronteiras.

O clima não era dos mais amenos.

Depois era inegável o sentido de competição que os festivais promoviam.

Havia o vencedor – e consequentemente os vencidos.

Os espectadores, embalados em euforia descontrolada, se comportavam como torcedores de futebol.

Escolhiam duas ou três canções, e vaiavam implacavelmente as demais.

Para se ter uma idéia, nessa edição do festival, o cantor/compositor Sérgio Ricardo revoltou-se com o comportamento da turba. Não conseguiu cantar a sua “Beto Bom de Bola” tamanha a vaia que recebeu. Não teve dúvidas. Quebrou o violão e o atirou em direção às primeiras filas.

Foi desclassificado.

Ao menos, não levou o desaforo das vaias para casa.

Pois foi nesse clima que Roberto entrou no palco para cantar um samba dolente e triste que falava da morte de uma criança.

Chamava-se “Maria Carnaval e Cinzas”, de autoria de Luiz Carlos Paraná, compositor conhecido apenas do pessoal que frequentava a noite paulistana. Ele era dono de uma famosa casa O Jogral, na rua

Avanhadava, onde se reunia a fina flor da boemia.

Roberto recebeu aplausos e vaias na mesma proporção.

Mas, declaradamente, não estava à vontade.

Mesmo refém da situação, fez a sua.

Interpretou com correção e classificou a canção para a final.

No computo final, um honroso quinto lugar.

A frente dele, ficaram Caetano e os Beat Boys (“Alegria Alegria”) em quarto, Chico e Mpb-4 (“Bem-vinda”) em terceiro, Gil e os Mutantes (“Domingo no Parque”) em segundo e Edú Lobo e Marília Pera foram os grandes vencedores com “Ponteio”.

Este foi o ápice dos Festivais da Record.

O Roberto Carlos que todos conheciam só apareceu nas entrevistas feitas pouco antes da divulgação dos resultados. Sorria aliviado. Sabia que não venceria, mas cumprira o seu papel. Além do que, estava apaixonado pela canção de Caetano.

— É linda, bicho.

E saiu a cantarolar o refrão:

“Eu tomo uma coca-cola.
Ela pensa em casamento.
Uma canção me consola.
Eu vou…
Por que não?
Por que não?”

No íntimo, desconfio, era a canção que gostaria de defender.

Foto no blog: Jô Rabelo

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