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Erasmo (2)

Vamos dar seqüência ao bate-papo de ontem sobre o aniversário de Erasmo Carlos que amanhã completa 68 anos.

Uma história que há tempos estou para contar..

II.

Como é mais do que sabido por todos, Erasmo e Roberto sempre foram amigos. Firmaram uma parceria ainda quando estavam em começo de carreira – e permaneceram juntos na fase áurea do iê-iê-iê.

Emplacavam um sucesso atrás do outro. Da versão de “Calhambeque” à explosão de “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”, passando por “Festa de Arromba”, “Parei Na Contramão” e outras tantas mais.

Hierarquicamente falando, todos sabiam o seu lugar.

Roberto era o Rei da Juventude. Erasmo, uma espécie de segundo nome da Corte e Wanderléa, a maninha de ambos – embora bem no início da carreira tivesse um affair com Roberto.

Estava de bom tamanho para todos.

E o reino seguia próspero, em paz.

III.

Até que Erasmo foi convidado pelo amigo Wilson Simonal para participar do Show em Symonal, programa que o próprio comandava nas noites das quintas-feiras na mesma e poderosa TV Record.

Simonal, Erasmo, Roberto, Benjor, Tim Maia se conheciam de tempos idos. Todos, loucos pela fama, integravam a trupe de artistas mambembes de Carlos Imperial, o grande mentor e propulsor das carreiras dessa rapaziada.

Pois então, continuemos…
IV.

Erasmo foi ao programa para cantar uma ou duas canções. A inexorável “Festa de Arromba” (onde fosse, tinha que cantar essa música) e “Gatinha Manhosa”, uma antiga balada que fizera nos tempos em que era vocalista do grupo Renato e Seus Blue Caps e, àquela ocasião, fazia enorme sucesso na voz do Amigo do Rei.

Só que Simona se empolgou na hora da apresentação. E danou-se a elogiar Erasmo. Falou de todos os hits que o Tremendão compôs (quase todos na interpretação de Roberto) e que ele era isso, aquilo e aqueloutro.

Uma versão, diria, mais espetacularizada para o recente episódio Obama e Lula.

Para Simonal, Erasmo era o cara – e ponto.

V.

Erasmo agradeceu com seu jeitão de menino crescido.

Cantou o que deveria cantar – e foi-se embora.

VI.

No domingo seguinte, reencontrou Roberto Carlos nos bastidores do programa Jovem Guarda.

Chegou na boa.

— E aí, bicho…

— E aí, bicho?

VI.

Roberto soltou as broncas todas de uma vez.

O Rei não havia assistido ao programa, mas fora (in)devidamente informado de tudo o que ocorrera por comentários e o dizquemediz habituais nos corredores, onde as celebridades circulam. E, naquele período, todos os tais e os bacanas eram contratados da TV Record.

A maior queixa de Roberto é que, em nenhum momento, o nome dele foi sequer citado.

VII.

Mesmo com a pose de fortão e brabo, Erasmo surpreendeu-se.

Ficou atarantado.

Tentou se defender, mas sem maior convicção. Até porque não entendeu como maldade o que fez.

Ficou na sua.

VIII.

Durante quase um ano, o relacionamento esfriou.

Os dois mal se cumprimentavam.

Só mantinham uma aparente cordialidade durante o programa.

IX.

Desfez-se, óbvio, a parceria.

E Roberto emplacou alguns sucessos como compositor solo.

“Quando”, “Como É Grande O Meu Amor Por Você”, entre outros.

X.

O Tempo, senhor de todos os destinos, tratou de desfazer o malentendido.

Dizem que contou com a ajuda de uma pomba da paz chamada Wanderléa.

E tudo voltou às boas.

XI.

De qualquer forma, anos depois, Roberto compôs e gravou aquela canção.

“Você,
meu amigo de fé
Meu irmão,
camarada…”

E, dizem também, bastar tocar os primeiros acordes para que Erasmo se emocione e chore feito criança…

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