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A perguntadora

“Sou um autor porque prefiro fazer perguntas.
Se tivesse respostas para elas, eu seria um político”.

Eugène Ionesco

Não posso lhes garantir que, se tivesse resposta para algo neste mundão de meu Deus, eu fosse um político. Embora insista em continuar teclando, diria que vocês se livraram de uma boa com o meu não à carreira de deputado, senador e daí pra cima.

Modestamente, porém, e já me entendendo do oficio de alinhavar letrinhas, concordo plenamente com o pensamento acima.

Minha impressão é a de que escrevemos para esclarecer a nós mesmos sobre as pelejas da vida cotidiana.

E por um motivo bem óbvio.

Somos os primeiros a ler a história que acabamos de escrever.

Vai daí que se acharmos que a tal não ficou boa podemos simplesmente chutá-la para o webespaço – e ninguém ficará sabendo que um dia ela existiu, mesmo que momentaneamente. Já se a considerarmos minimamente legalzinha podemos colocá-la na banca ou na tela, como é, aqui, o nosso humilde caso.

Todo esse conversê – que os antigos chamavam de prólogo – é em função de que as pessoas, leitores ou não, comumente enchem os escribas de perguntas como se fossem, estes, filiais ambulantes do Google.

Acontece inclusive com blogueiros inofensivos, como este que vos tecla.

Nenhum mal nisso. Apenas alguns embaraços…

Ontem mesmo respondi prazerosamente, em post, à pergunta de uma internauta sobre a malversada imparcialidade jornalística.

Hoje, tento me desculpar por nada haver dito aqui sobre os 40 anos da chegada do homem à Lua. Uma “imperdoável omissão”, segundo outra leitora/entrevistadora. Aliás, uma metralhadora de perguntas:

— Queria saber onde você estava e o que pensou quando soube da notícia?

— Quando viu a cena do homem pisando pela primeira vez na Lua, você duvidou que fosse verdade e acreditou que os americanos estavam encenando tudo aquilo?

— Você se emocionou ou…

Minha cara e meus caros cinco ou seis amáveis leitores, aos 18 anos a única coisa que me emocionava era o olhar da menina que, a caminho do trabalho, pegava o mesmo ônibus que eu. Olhar encantador que, registre-se aqui, raras vezes recebi e se perderam nas manhas e manhãs do tempo.

Ah!

Talvez por isso também, achei lindos e definitivos os versos de Gilberto Gil em início de carreira:

“Poetas, seresteiros, namorados, correis.
É chegada a hora de escrever e sonhar.
Talvez as derradeiras noites de luar”.

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