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Mengoooo!!!

Minha amiga, paulistana da gema e da ZL, foi ao Rio a trabalho.

Aproveitou para dar um bordejo por lá no fim de semana.

Voltou “com a sensação de que é preciso reaprender a viver”.

Disse que por lá “paulista tem fama de carregar o burro nas costas”.

Não gostou, mas concluiu que faz algum sentido.

II.

Outra conclusão: lá ficar no trânsito é um descanso.

Ela levou duas horas do centro até São Conrado. Mas nem viu o tempo passar.
Ficou encantada com as ondas batendo nas pedras, o cheiro bom de mar e de quebra ainda ouviu as histórias engraçadas de um taxista que lhe recomendou “um santo remédio para o stress paulistano.

Ir ao Maracanã ver um jogo do Flamengo.

III.

Moça obediente que é, lá foi ela fazer sua estréia nos estádios justamente nas cadeiras azuis do Maraca que, segundo o mestre, guru e taxista, é o setor indicado para as famílias e pessoas de fino trato, como ela.

Minha amiga encantou-se.

IV.

Antes de começar o jogo, ela jura que teve a sensação de estar numa festa de aniversário de criança. “Tinha bebê de colo aprendendo a andar segurando nas cadeiras, mãe trocando fralda, avó comprando picolé, essas coisas comuns a qualquer parque”.

Uma beleza.

V.

Só que o adversário do Fla, o Náutico (a quem chamou, na linguagem dos entendidos, de ‘lanterna’ do campeonato), fez o primeiro gol.

Aí, a arquibancada quase despencou.

VI.

Ela espantou-se, mas achou tudo lindo.

Nunca havia visto tanta gente xingando, esbravejando, soltando os cachorros ao mesmo tempo.

Tudo sem perder o sorriso ou parar a cantoria.

VII.

“A torcida protestava contra um tal de Léo Moura. Todos queriam saber o que ele tinha feito na noite anterior, que estava dormindo em campo. Só respeitavam um moço, com jeito de senhor, de nome Peti. Diziam que ele é russo (na verdade, Peticovik, é sérvio) e mal se movimentava em campo.”

Ela lembrou-se de Nelson Rodrigues que escrevia a partir das reações dos torcedores.

E prometeu reler toda a obra que reúne as crônicas esportivas do jornalista e dramaturgo.

VIII.

Não falou de violência.

Nem foi preciso.

Neste lamentável quesito, desconfio, dá empate entre Sampa e a Cidade Maravilhosa.

Mas, a moça me fez uma confidência que achou importantíssima.

— Saí de lá com a certeza de ter nascido flamengo.

FOTO: Jô Rabelo

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