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Lição de vida

Certa vez, tentei enrolar meu professor de antropologia, na USP.

Trabalhava em uma escola estadual no Jardim Moreira, periferia de Guarulhos.

Morava no Ipiranga.

Estudava na Cidade Universitária.

Eram oito ônibus por dia.

Ele entenderia.

Desconfio que eu era o único durango da turma.

Homem de poucas palavras. Sóbrio e rigoroso em suas avaliações.

Por certo, ele, um grande humanista, me entenderia.

Expliquei tintim por tintim a vida insana que levava.

Ele me ouviu.

Concordou com todas as minhas justificativas.

Afável, disse que, em vista de tudo o que acabara de lhe contar, eu tinha mesmo o direito de chegar atrasado.

De faltar, se fosse o caso.

Assim como ele certamente me daria falta no atraso, se fosse o caso.

No dia que faltasse, então…

Nem pensar, era falta mesmo.

Fiquei atônito.

— Mas, professor…

Ele, implacável:

— Somos nossas opções. Defendo o legítimo direito que todos temos ao livre arbítrio.

Levantei-me sem graça – me dei conta do que estava lhe pedindo.

Rumei para a porta; mas, um tantinho antes de me despedir, ele completou:

— Somos nossas opções, rapaz. Mas, na maioria das vezes, arcamos mesmo com as consequências dos nossos equívocos.

Detalhe:

Nunca mais faltei na aula dele.

* UM ADENDO:
O post de hoje surgiu após uma troca de emails com o amigo, professor e jornalista, Jorge Tarquini. Compartilho com vocês, leitores, essa belíssima lição de vida…

** FOTO NO BLOG: Jô Rabelo

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