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Escova e a cigana

Encontro o amigo Escova esparramado em um dos bancos de madeira nos arredores do bosque atrás do Museu do Ipiranga.

Manhã de sábado. Sol esquivo. O amigo veste um abrigo esportivo, mas no lugar das vigoras caminhadas matinais – que ele próprio diz ser o seu forte – está ali, reparo, um tanto macambúzio, algo sorumbático.

Conheço Escova de outros outonos.

O irretorquível Dom Juan das Quebradas do Mundaréu já não é mais o mesmo.

O esporte preferido do amigo sempre foi a trampolinagem conjugal.

Sempre foi expert no assunto.

Alguns dos nossos chegados o repreendiam.

A maioria – sou capaz de apostar – o invejava.

Mas, os tempos eram outros.

Mesmo assim sou capaz de apostar que não é outro o mal que agora o incomoda.

Dito e feito.

Bastou sentar-me ao seu lado para ouvir o desabafo.

— As mulheres de hoje não são mais as mesmas.

Ainda bem, retruco, tentando confortar o amigo.

Mas ele não se contém. Quer falar:

— Você faz a maior declaração de amor – e ela ali com o celular na mão. Conferindo as mensagens, as ligações, teclando sabe-se lá para quem.

Prefiro nem comentar.

Escova entende o meu silêncio como cumplicidade.

E continua:

— Mas isso não é o pior, diz todo borocoxô.

E o que pode ser pior, pergunto.

— Uma cigana quis ler a minha mão.
Era bonita, pergunto.

— Nem reparei.

Estranho. Em outros tempos, seriam inevitáveis o reparo e a investida.

— Não ando lá essas coisas, justifica-se.

Tento animá-lo. Pergunto ser a vidente fez boas previsões.

— Eu não quis saber de conversa. Pedi a ela que me dissesse até quando eu daria no couro. Sabe como é eu gosto da coisa.

— Mas, e aí: o que ela lhe disse?

(Só então ele me confessa a causa de toda a sua tristeza)

— Falou que até os 75 as coisas vão continuar iguais como hoje estão. Até porque pior do que está não fica…

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