Manhã ensolarada de 17 de junho de 1996.
Mal saíra do banho, ouço o telefone de casa tocar.
É a repórter Analy Cristófani que me alerta:
Há um incêndio de grandes proporções na Favela de Heliópolis. O repórter-fotográfico Robson Fernandjes já está no local. Mas, é bom que me apresse, pois o trânsito no perímetro urbano da Anchieta (meu caminho obrigatório) está um caos – e teremos um longo dia de trabalho na Redação.
Antes de sair, ligo a TV e vejo imagens que me impressionam.
Lembro de um amigo, também jornalista, que antes de se aposentar, já prenunciara:
– Basta uma faísca para que Heliópolis vire um inferno. É uma questão de tempo…
Dito e feito.
Agora, lá estávamos nós, da combativa equipe de Gazeta do Ipiranga, para registrar a crônica da tragédia anunciada.
Mas, o que poderíamos, nós, jornalistas e cidadãos, mais fazer por aquela gente?
II.
Em meio à lida, nunca chegamos a responder inteiramente a questão.
Ficamos mais na nossa (que no fundo é o que sabemos ou podemos fazer):
Noticiar. Noticiar. Noticiar
III.
Diante das mesmas cenas, o maestro Sílvio Baccarelli não se fez de rogado.
Projetou o velho sonho de estender às crianças das camadas mais humildes o ensino de música.
Não esperou por apoio de nenhuma autoridade para criar uma escola de música naquela região do Ipiranga.
36 jovens e adolescentes formaram o primeiro núcleo do que hoje conhecemos como a Orquestra Sinfônica de Heliópolis.
Os repórteres da Gazetinha também registraram as primeiras audições da Orquestra – inclusive a histórica apresentação no salão nobre do Museu do Ipiranga, a convite do professor José Sebastião Witter, então diretor do Museu.
IV.
Hoje, a escola reúne 600 alunos.
Amanhã, os músicos de Heliópolis se apresentam, no Teatro Municipal de Paulínia, ao lado da Orquestra Jovem Filarmônica de Israel, sob a batuta do renomado maestro Zubin Mehta.
Bom ver quando os sonhos se transformam em realidade…