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Referencial teórico

Sempre tive pressa na vida.

Na boa, não sei o que ganhei nessa toada.

Pressa de tirar o uniforme do Grupo Escolar para ir para a rua jogar futebol com a molecada.

Pressa de encontrar a menina no portão da casa dela no tempo em que as meninas esperavam os namorados no portão de casa.

Pressa em completar 18 anos e poder assistir às sessões malditas do Cine Marachá.

Pressa de arranjar um bom emprego para ganhar uns trocos e gastar em bobagens, além de escapar dos credores.

Pressa em comprar o primeiro carro (um Volks 75 creme) para escapar das oito condições que levavam do Ipiranga à Usp, da Usp a Guarulhos (onde eu trabalhava), de Guarulhos ao Ipiranga…

II.

Pressa. Muita pressa…

De ouvir aquela canção do Chico Buarque.

(“Apesar de você/ amanhã há de ser/outro dia)

De eleger um presidente pelo voto direto.

De acreditar no fim da estação.

De fugir do congestionamento.

De aproveitar o sol de verão.

De não perder o passo e a festa.

De beber todas.

De entrar numas.

De chutar o balde do politicamente correto…

III.

Para que tanta pressa, meu rapaz?

Pressa de casar.

De não perder a hora do dentista.

De escapar do aluguel.

De ser o poderoso chefão.

De escrever um livro.

De ver o filho crescer…

(Só a árvore não plantei. Os ecologistas que me perdoem.)

IV.

Pressa.

Muita pressa.

Pressa mesmo.

Pois é…

Hoje, meus caros, a única pressa que tenho é a de voltar para casa.

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