O jornalista Paulo Moreira Leite, colunista da Revista Época, lembrou histórias interessantes durante a palestra de ontem na oitava edição do Encontro de Jornalismo, da Universidade de São Paulo.
Os estudantes surpreenderam-se ao saber que os jornais comunistas tiveram as redações e as gráficas empasteladas logo após o anúncio do suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954.
Primeiro porque, desconfio, não lhes é familiar a expressão ‘empastelar’ – misturar caracteres tipográficos; inutilizar as oficinas de um jornal; amassar, machucar, estragar.
Segundo porque se espantaram ao saber que foram populares, simpatizantes de Vargas, que invadiram as redações e as oficinas para destruí-las implacavelmente.
Para os futuros jornalistas, uma novidade que devem pesquisar – além do Google – para entenderem melhor a história do País e da profissão que escolheram.
Não há presente que não se ampare no passado – e, para essa garotada, o futuro é logo ali.
Um pouco além da próxima tuitada…
Para velhos repórteres como eu, a grata lembrança do meu primeiro editor, o saudoso Tonico Marques (Antônio de Oliveira Marques).
Idos dos anos 70, a redação de piso assoalhado e grandes janelões para a Rua Bom Pastor parava para ouvir as histórias que o Marques contava.
— Vocês são jovens e inconsequentes, dizia. – Mas levam jeito.
Acreditávamos- afinal, tínhamos a idade e os sonhos dessa garotada que assistiu a palestra de ontem. Pedíamos, então, que nos contasse sobre a tal edição do dia em que Getúlio morreu.
Marques era secretário de redação (ainda existe a função?) do Notícias de Hoje ou do São Paulo Hoje – os jornais do partidão eram perseguidos, fechados, empastelados; mas sempre ressurgiam e a forma de reconhece-los e identificá-los era a palavra Hoje.
Para ele, o estopim da fúria e da revolta foi a manchete que estamparam na manhã seguinte.
Uma provocação!
Que o povo saia às ruas e tome
para si os destinos da Pátria
Ele contava – e saboreava a emoção em cada palavra, em cada sílaba.
Orgulhava-se da coragem, e do feito.