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A Grande Irmã

Há quem diga que o Brasil pode ser dividido em antes e depois de Pedro Álvares Cabral.

Faz sentido.

Mas, há os que falam em antes e depois da Copa de 50 ou antes e depois de João Gilberto e da bossa nova ou ainda antes e depois de mitos esportivos como Pelé e Ayrton Senna.

Para o escritor Renato Sérgio, existe um Brasil antes e outro depois de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo (1891/1968).

O motivo é simples.

Foi o jornalista nascido em Umbuzeiro (Paraíba) que trouxe para o Brasil, no ano santo de 1950, “um arrasador meio de comunicação chamado televisão”.

“A Grande Irmã… Uma hipnose via satélite”, como Renato a definiu no livro em biografou Sérgio Porto (Dupla Exposição – Stanislaw Sérgio Ponte Porto Preta).

Desde 1947, quando viu a engenhoca funcionar nos Estados Unidos, Chatô se deslumbrou, e num delírio decretou:

— Vou levar essa droga para o Brasil.

Por aqui, tratou de arranjar dinheiro para trazer os equipamentos. Alguns patrocinadores dos Diários e Emissoras Associados ‘compareceram’ com o investimento a perder de vista. Entraram nessa coleta voluntária a Antártica, o Moinho Santista, a RCA, entre outros.

Certa tarde, chegou à Redação do Diário de S.Paulo, na rua Sete de Abril, a melhor notícia: a televisão acabara de chegar no porto de Santos. As trapitongas todas encaixotadas subiram a Serra com destino ao Planalto, bairro do Sumaré.

Dois engenheiros levaram quase três anos para fazer a coisa toda funcionar, tudo na base do improviso. Não havia manual de montagem.

Doutor Assis já estava prestes a anunciar a novidade quando alguém lhe fez o favor de lhe alertar. Mas, e os receptores?

“O Brasil tinha televisão, mas não tinha quem a visse.”

Em outro de seus delírios, o jornalista mandou comprar 100 aparelhos nos Estados Unidos e os espalhou para os supostos futuros patrocinadores. Os equipamentos que sobraram foram instalados no Viaduto do Chá e no Estádio do Pacaembu para que o “povão” se inteirasse “da nova forma de rádio com imagem”.

Três câmeras estavam programadas para registrar ao vivo a inauguração com apresentação do cantor mexicano Frei José Mojica. Ao final, apenas duas funcionaram. Chatô empolgou-se e estilhaçou uma garrafa de champagne no casco de uma das câmeras, como se faz quando um novo navio vai ao mar pela primeira vez.

Quebraram-se ambas.

E, acreditem, foi assim que tudo começou…

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