Entendam que os tempos eram outros.
Os jovens, também.
Roberto era o Rei.
Erasmo, o Tremendão.
Wanderléa, a Ternurinha.
Mas, a corte se multiplicava em outros tantos personagens.
Eduardo Araújo era o Bom.
Wanderley Cardoso, o Bom… Rapaz.
Ronnie Von, o Príncipe.
Bob di Carlo, o Tijolinho.
Sérgio Reis, o Coração de Papel.
Até Benjor que então atendia pelo nome artístico de Jorge Ben, creiam, virou o Bidu.
Discos, canções, características pessoais. Qualquer coisa dava origem aos codinomes dos principais cantores/compositores no tempo da Jovem Guarda.
II.
Reginaldo Rossi desembarcou no Sulmaravilha com pose de Rei da Juventude do Nordeste. Sua música, que estourara em todas as praças, chamava-se “O Pão”, modesta e sugestivamente.
Nada mais natural, portanto, que assim RC passasse a apresentá-lo naquelas belas tardes de domingo.
“Com vocês, o meu amigo, Reginaldo Rossi, o Pão.”
III.
O programa de enorme sucesso durou pouco mais de dois anos, quase três. Saiu da grade da Record quando já dava sinais de exaustão. A juventude em 1968 queria um tantinho mais.
“É proibido proibir”, a palavra de ordem dos estudantes franceses e o refrão de uma nova canção de Caetano, o tropicalista.
IV.
Os jovens-guardianos perderam o chão. Ficaram à deriva. Tudo girava em torno daquelas aparições no palco do Teatro Record: contrato com gravadora, disco novo, agenda de show, presença nas rádios e em programas de TV e outras coisinhas mais.
– Ficamos perdidaços, me disse certa vez Erasmo Carlos em entrevista.
Só o Roberto segurou a onda, enveredando para a música romântica, inclusive com vitoriosa participação no Festival de San Remo. Itália.
V.
Para não perder o bonde e a esperança, a turma procurou novos caminhos. Benjor radicalizou no Pa-tro-pi. Erasmo fez dois belos discos experimentais – “Sonhos e Memórias” e “Carlos, Erasmo”. Serjão enveredou para a música sertaneja. E Rossi retomou suas origens nordestinas.
VI.
Só em meados dos anos 90, Reginaldo Rossi voltou a bombar por aqui. Agora, ele era o “Rei dos Bregas”, com orgulho e bom humor. Virou referência nacional com canções aboleradas que falavam de bebuns, cornos e assemelhados.
Era mesmo uma figura. Um pouco de Roberto, outro muito de Waldik Soriano.
VII.
Eu o vi pela última vez à coisa de dois anos, pouco mais, pouco menos.
Fui ao Recife participar de um Congresso de Comunicação e, de repente, do fundo do avião, ainda quando estava ajeitando o cinto para a decolagem, me aparece Reginaldo Rossi. Senta-se sozinho em uma das fileiras, vira o rosto para a janela, e assim permanece até o fim da viagem.
– Foi o primeiro a entrar e sempre é o último a sair da aeronave, comenta a comissária de bordo com um passageiro que ameaçou uma aproximação com o ídolo.
A moça o conhecia de outras idas-e-vindas.
– Ele é muito reservado, nem parece aquele artista desinibido e escrachado que se vê nos palcos. Mas, é de uma gentileza única.
VIII.
Leio nos jornais o depoimento do médico que o tratou até a última hora:
“Ele sabia da gravidade da situação, mas em nenhum momento perdeu a serenidade, a alegria”.