Canarinho, o humorista de A Praça é Nossa que morreu ontem, aos 86 anos, era uma referência de criança para mim. Uma referência de alegria, uma referência com as primeiras sensações de vida e encanto que me chegaram por meio do rádio e da TV.
Lembro a mãe ouvindo o Programa Manoel de Nóbrega, todos os dias na hora do almoço, na Rádio Nacional, onde as atrações eram Golias, Carlos Alberto de Nóbrega, Roberto Luna e o próprio Canarinho, uma mistura de ator, cantor, comediante.
Sílvio Santos – acreditem! – era o locutor comercial do programa. Nóbrega, pai, o chamava de “O Peru Que Fala”, pois diziam que o moço ficava com o rosto avermelhado de inibição e vergonha (pode?) a cada nova entrada no ar.
Enfim…
Aldão, meu pai, preferia lembrar que Canarinho perdera a chance de fazer sucesso internacional. Ao lado de Carmem Miranda e Russo do Pandeiro, ele compunha o grupo musical O Bando da Lua, como instrumentista, cantor e dançarino.
Quando o grupo embarcou para uma temporada nos Estados Unidos, Canarinho (no registro Aluísio Ferreira Gomes) optou por ficar por aqui. Teve receio de que as coisas lá não virassem e, ao voltar para o Brasil, ter que recomeçar a carreira do zero.
Canarinho partiu, então, para a carreira solo na boate Oásis, uma das mais famosas daqueles idos tempos. Foi lá que conheceu o melhor amigo, Manoel de Nóbrega, que o levou para o rádio e para a TV.
Ao lado do próprio Carlos Alberto, da Hebe e do Golias, ele foi um dos humoristas fundadores de A Praça da Alegria.
Há coisa de três quatro anos, orientei um livrorreportagem sobre a história do mais antigo humorístico da TV brasileira, A Praça É Nossa Alegria. Foi um trabalho de conclusão de curso do curso de jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo.As autoras, Carolina Carecho e Elise Caetano Garcia, entrevistaram Canarinho, então um pacato morador da cidade de Mogi das Cruzes, interior de São Paulo.
Emocionaram-se com o encontro e com o amor com que o pequeno-grande Canarinho lembrou sua história que, em essência, um pouco mais, um pouco menos, bem retrata a história do rádio e da TV brasileiros.
Saudades.