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a VELHA REDAÇÃO

Passo pela rua Bom Pastor e vejo que veio abaixo o velho casarão que abrigou o jornal onde trabalhei por quase 30 anos.

Não me surpreendo. Era inevitável, penso.

Assim como nossos pontos de encontro, a Padaria do Seu José na esquina com a rua Lucas Óbes e o boteco do cruzamento com a Greenfeld (que deu lugar a imponente Estação Sacomã do Metrô), a VELHA REDAÇÃO (em caixa alta como derradeira homenagem) de piso assoalhado e grandes janelões não existe mais.

II.

Comento com o amigo Waltão – e ele se diz acachapado quando soube da demolição.

O repórter-fotográfico das antigas conta que a notícia o fez sentir na pele dos personagens Matogrosso e Joca, criados pelo grande Adoniran Barbosa, para o samba eterno “Saudosa Maloca”.

“Cada talba que caía, duía no coração”, cantarolei no dialeto barbosiano para consolar o amigo.

Waltão se espanta com minha indiferença.

“Deus dá o frio conforme o cobertor”, continuo cantarolando na tentativa de me explicar.

III.

A bem da verdade, minha tese sobre a VELHA REDAÇÃO é a seguinte: ela só existiu e ainda hoje sobrevive no imaginário de todos nós, repórteres, fotógrafos, diagramadores e afins que ali vivemos bons e divertidos anos das nossas vidas. Era um sonhar contínuo. Um fazer e acontecer, rodeados de amigos, e a vida a pulsar e pulsar e pulsar…

Fomos – e somos – privilegiados, esclareço.

E ele concorda:

– Quem não viveu aquilo tudo, nunca nos entenderá.

É provável, digo.

IV.

Em tempos mais recentes, quando passava pela Bom Pastor e via o prédio abandonado e tristemente vazio, eu nada sentia. Quando muito, uma ou outra lembrança se achegava com sabor de doce nostalgia e a certeza de que tudo passa e assim é que é esse trem chamado Destino.

Valeu! – dizia para mim mesmo, em tom de celebração.

Quem sobreviveu, amigo, está pela aí. São e salvo e forte.

Vida que segue…

V.

Vou lhe contar, Waltão, lembro claramente o dia em que cheguei ao prédio pela primeira vez. Lá estava o Marques, o AC, o fotógrafo Romeu, o Mauça e alguns mais… Não consigo, porém, recordar o dia que saí dali para não mais voltar.

Desconfio que a VELHA REDAÇÃO nunca saiu de mim. Sempre existirá para todos nós.

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