Permitam-me continuar com a temática de ontem.
Na mesma linha, gostaria de acrescentar outro momento bem gratificante para este humilde escriba na lida de seu cotidiano blogar.
Foi quando um jovem estudante do primeiro ano Jornalismo me procurou para dizer que, a partir deste nosso espaço, conheceu Rubem Braga e encantou-se com a obra do nosso melhor cronista.
A princípio, lamentei que, em mais de dez anos de vida escola, ninguém tenha lhe aproximado da prazerosa leitura do grande Braga. Especialmente se o menino era vocacionado para o Jornalismo, o cronista, que sempre escreveu para jornais e revistas e deste material emergiram dezenas de títulos de livros, pois este notável autor deveria ser leitura obrigatória desde as primeiras lições do alfabeto.
II.
Isto posto, o que eu lhes trago hoje é o outro lado do ofício de viver a alinhavar letrinhas.
Quando o que escrevemos – e mesmo com a melhor das intenções – não chega ao leitor da forma como imaginamos. Ele lê uma coisa e entende outra. Ou entende o que bem quer.
Ai, ai, ai…
Aí, é um constrangimento.
III.
Ainda recentemente, minha irmã Doroti me aprontou uma dessas.
Ao me encontrar numa roda familiar, saudou-me dizendo que acompanha os meus posts diários. Pertence à privilegiada casta de meus cinco ou seis leitores. Até porque – ressaltou ela – eu consigo falar o que elazinha sente e pensa.
Conheço a mana de outros carnavais, portanto liguei de pronto o sinal de alerta, mas não lhe tolhi a palavra.
IV.
Ela estava, digamos, discursiva e narrou um episódio de novembro passado em que se cristalizava essa empatia entre escrevinhador e leitora.
Disse que estava muito, muito, triste porque naquele dia – 9 de novembro – era aniversário de morte de um de seus filhos, o saudoso Renato, e essa ausência a deixava intimamente destruída.
Foi ao Blog em busca de conforto – e lá eu também me mostrava entristecido e dizia viver “a amarga experiência do dia”. Sequer terminou de ler o texto, tal espanto que ficou diante da nossa sinergia.
V.
Caríssimos, não me lembrava de tal post.
Mas, não quis desmenti-la.
Afinal, a gente deve preservar os nossos raros e amáveis leitores.
Discretamente, acionei o Blog no celular e conferi a crônica de 10 de novembro (“Na mesma barca…”) que assim começava:
“Acordo – e, direto e reto, vou fuçar o celular. Saber das notícias do dia. Tentar me livrar da amarga experiência do dia anterior. Quem sabe não passou de um pesadelo, daqueles medonhos, o que vivi na manhã de ontem? ”
Eu mesmo me espantei com as palavras do abre. Será que batuquei um texto psicografado – e nem me dei conta do que escrevi?
VI.
Resolvi prosseguir a leitura.
No mesmo parágrafo, linhas adiante, acabei por desvendar o mistério:
“Assim que toquei no celular topei com as feições transtornadas de Donald Trump como presidente eleito dos Estados Unidos. Não foi fácil assimilar que era vida real. ”
E assim continuei a pensata daquele dia, narrando os receios sobre o novo mandatário da maior potência do mundo.
(Nada a ver com a saudade do meu sobrinho.)
VII.
Sorri sem graça.
A mana continuava a elogiar a sensibilidade das minhas narrativas.
Seus interlocutores estavam impressionados.
Resolvi não os decepcionar.
Em um silêncio cúmplice, saí da roda de fininho…