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As desventuras do Poeta no zapzap

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Conforme o prometido no post de domingo, em três microcontos, vamos às incríveis desventuras do amigo Poeta, o solitário, no imprevisível mundo do WhatsApp.

Aviso logo que é uma versão, digamos, mais romanceada.

I.

Aninha, a novinha, zapeou assim que chegou de viagem:

Voltei.

O Poeta, eufórico – há semanas esperava um olá da moça -, foi rápido no gatilho. Quer dizer, teclado:

Que bom!!!

E seguiu:

Enfim… Quando podemos nos ver?

Triste, triste, ele me contou:

“A conversa foi no ano passado, antes do Natal.”

Até hoje, ainda esperançoso, o moço aguarda a resposta.

Que não vem, que não vem, que não vem, vem, vem…

II.

Dogival, o amigo dos tempos da repartição pública – por um bom período o Poeta trabalhou na Sabesp – também deu às caras no zap:

E aí, tudo vem?

A saúde?

Como vão as coisas? E a família?

Já casou ou continua avulso?

E o nosso time, hein? Não ganha uma…

Diante da surpresa do brother que reapareceu – e super interessado no seu cotidiano -, o Poeta abriu um largo sorriso.

Pacientemente, escolhendo as palavras (afinal, todos o conhecem como o Poeta), tratou de responder a cada uma das perguntas.

Fez mais – e melhor.

Se disse emocionado pelo interesse do amigo que não via há longos anos – e não teve dúvida em convidá-lo para um almoço, dia desses, em nome dos velhos tempos.

Pode escolher o restaurante. A conta é por minha conta.

Boa!!!confirmou Dogival.

Entabularam uma troca de mensagem por alguns minutos. Até que Dogival alegou que o papo estava bom, mas precisava atender um cliente.

E concluiu:

Amanhã, eu te ligo pra confirmar hora e local.

Falou?

A dolorosa é sua, não esquece.

O Poeta não esqueceu.

Quem esqueceu foi o Dogival.

Cadê ele, meu?

III.

Não sabe como Laila o encontrou.

Laila, a princesa moura, a paixão da sua vida, o caso mais complicado, a que se foi e deixou saudades.

Apareceu no e-mail e, depois, migrou (migraram) para o zap.

Tantas lembranças, tantas coisas em comum.

Ela foi sincerona.

Morava em outro país. Tinha marido, filhos e uma vida, digamos, estabilizada. Mas, precisava confessar: ela nunca o esqueceu.

Você foi único!teclou.

O Poeta estava posto em sossego.

Mas, sabem como é?, o mistério está nessa bendita fidelidade que os homens têm aos amores impossíveis.

Não preciso dizer, mas digo:

Ele mordeu a isca. Derreteu-se todo. Respondeu no mesmo tom. Se bem o conheço – e o conheço razoavelmente bem – exagerou, foi além da conta.

Acreditou naquele verso:

“Qualquer maneira de amor vale a pena.”

Entabularam um ritual de conversas. Era zap pra cá, zap pra lá, o dia todo. Confidências, declarações, fotos bem comportadas (que são pessoas tementes ao Senhor e aos bons modos), trivialidades do dia a dia de cada um.

Ah, os poetas, o que não fazem pelas tais musas inspiradoras!

Meu preclaro amigo, no entusiasmo, jurou amor eterno. Prometeu que faria uma loucura. Na primeira oportunidade, daria um jeito de cortar o oceano para vê-la fosse onde fosse.

Ele só queria vê-la, estar com ela, mesmo que por instantes.

Só isso já lhe bastava.

Laila ficou tocada, perdeu o prumo, mas não o rumo.

Respondeu que o encontro de ambos, naquele remoto passado, fora mesmo coisa do Sr. Destino. Que o que sentiam/sentem, mesmo distantes, era coisa de outras vidas.

Não sei se a novelinha das seis da Poderosa também passa no país que a moça mora – o Poeta não me disse.

Disse apenas que, talvez por isso ou porque o Poeta de tanto poetar virara um chato, a Dona Laila deu um bloque geral no meu camarada – e, assim como surgiu, desapareceu…

 

 *Importante: o Poeta autorizou a publicação dessas historietas desde que preservada a identidade das personagens que aqui aparecem como nomes fictícios.

Só o Poeta é mesmo o Poeta.

 

1 Response
  • VERONICA PATRICIA ARAVENA CORTES
    13, março, 2019

    Ahhh o amor, insossa seria a vida sem esse tormento…

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