– Iolanda, com I ou com Y?
Perdi as contas das vezes que eu mesmo me deparei com insólito questionamento.
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Ainda há poucas semanas fui renovar o título de eleitor por causa da biometria – e quase desanda tudo.
Entreguei meus documentos à senhora que me atendeu no Cartório Eleitoral.
Tudo ok, tudo certo, até que percebo a aflição da atendente a olhar a tela – onde constava minha inscrição original – e, em seguida, para a papelada que lhe dei.
Olha aqui, olha ali e torna a olhar.
Até que não se contém e faz a inevitável pergunta:
– O nome de sua mãe é Yolanda com Y ou Iolanda com I?
Ela explica, e justifica:
– Na tela está com Y, na cédula de identidade está com I. Na dúvida, não posso continuar porque o serviço trava se os dados não batem.
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Digo para ela que, infelizmente, não tenho resposta para tal dúvida.
Nem eu, nem ninguém.
Aliás, ainda garoto, via minha saudosa mãe, sempre que diante da questão, também esquivar-se da questão.
Não tinha certeza alguma.
Na certidão de nascimento, estava com I; na do casamento com Y – mas, podia ser o inverso.
No título de eleitor dela, era Yolanda.
Na identidade, era Iolanda.
Ou vice-versa…
E assim foi vida afora.
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Até lembro que a própria Senhora Minha Mãe, em meu boletim de notas, ora assinava Iolanda com I, ora assinava Yolanda com Y. A gosto do momento.
Quase sempre, com a mãe em dúvida, quem estivesse do outro lado do balcão a preencher fosse qual fosse a ficha decidia por conta e risco se era com I ou com Y.
O que, convenhamos, só aumentou a confusão no decorrer dos anos.
Mas, a mãe era bem humorada (quando queria e lhe interessava) e tirava de letra (I ou Y?) o impasse.
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Ela morreu aos 90 anos. Em junho de 2015.
Andava feliz que só, paparicada por filhos, netos e bisnetos.
Fazia amizade e despertava afeto por onde passava.
Até o rapaz da padaria que nos servia o café nas manhãs de sábado, noutro dia mesmo, lembrou dela:
– Sempre que o vejo por aqui, lembro-me da sua mãe. Gostava de um cafezinho bem quente, né?
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Com I ou com Y, a velhinha deixou uma imensa saudade.
E faz uma falta danada…
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Uma canção para homenagear a todas as mamães (presentes e ausentes)
O que você acha?