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O que o tempo leva… (27)

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UMA NOVELA BLOGUEIRA – (Foto: Arquivo Pessoal)

 

DAY AFTER, a consagração do inevitável. O coração empedrado, aos pinotes: a vida pelo avesso. Felisberto decide partir…

 

Logo cedo quem aparece no Gera Park?

Ele próprio: o Sr. Camargo que, diga-se, veio  dirigindo o inefável XR-3 preto, o pomo da discórdia (seja lá o que isso queira dizer).

Tem a expressão de quem passou a noite em claro, mas vem decidido a enfrentar a fera ferida.

Concordou com Lulu (para ele, sempre foi só Lulu) quando soube da história toda.

Não se imagina viver sem ela, por isso, a partir daquela manhã, não esconderia nada de ninguém. Ao menos, naquelas redondezas.

(Explica-se : a família Camargo tem residência fixa em Campos Novos Paulista, longe pra dedéu.  Raramente a Sra. Camargo e os filhos vêm para Capital, não seria agora. Mas, esta é outra questão que não convém meter o bedelho. Cada qual com seus problemas.)

Ainda bem que Felisberto compreendeu o insustentável da situação.

Foi breve:

– Quero acertar minhas contas.

Sr. Camargo também foi ligeiro.

Fez os acertos necessários  – e logo telefonou para o futuro cunhado, o caçula Lúcio Mauro, para assumir o cargo de gerente geral e único funcionário do Gera Park, agora em fase de expansão.

Para não lhe empedrar o coração de vez, Felisberto decidiu não ficar ali nem mais um instante. Não teria como olhar para os camaradas. Não teria como topar, frente a frente, com o novo gerente geral. Verdade verdadeira: o insuportável mesmo seria ver Lucilinda e ter de encarar aquele sorriso e todos os sonhos abalroados impiedosamente numa imprevista curva do destino.

Basta lembrar o dia de ontem, o coração pinoteia a lhe revirar a vida pelo avesso.

Vida? O que seria agora da sua vida? Sem emprego, sem casa pra morar e…

Não chegou sequer a concluir o raciocínio.

Mas, o atento leitor sabe bem em quem o rapazola pensava.

Lucilinda, o tremendo, o lastimável e o definitivo engano.

Juntou as tralhas numa mochila de pano, conferiu o tanto de economias que guardara de olho nas necessidades do ex-futuro casamento (mais a indenização que seria depositada em conta, no prazo máximo de 10 dias, tem o suficiente para os por-enquantos) e se manda sem olhar para trás e se despedir de quem quer que seja.

Não tem rumo, é um poço de dúvidas.

Para no ponto de ônibus que vê na movimentada avenida D. Pedro, está decidido a subir no primeiro ônibus que aparecer. Não interessa o destino.

Lembra um autômato. Não consegue pensar em nada. Só quer sumir daquele lugar.

Não foi lá tão longe quanto imaginou.

O ponto final do coletivo é em frente à estação do Metrô do Parque D. Pedro.

Desce com a convicção de que a cidade não lhe quer. Nunca lhe quis. Essa gente disforme, opaca. Apressada. Tosca de sentimentos. Esse céu acinzentado que parece querer desabar em cima da gente. Esse calor abafado. É mesmo uma metrópole inóspita onde tudo e todos o escorraçam para longe dali.

Pensa e pensa e conclui:

“A vida, por vezes, se transforma num tremendo e lamentável engano”.

 

 

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