Foto: Divulgação
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Pensei em abrir as crônicas da semana com o registro do meu total desacordo e protesto à tal fala que o Sr. Ministro da Economia pespegou sobre o FIES, o Pró-Uni e o filho do porteiro do prédio onde reside o distinto prócere do atual Governo.
Um psicólogo amigo meu a definiu como “ato falho”.
Não sou do ramo das análises da mente humana, das terapias e afins, por isso mesmo vou no popular: achei preconceituosa e reacionária; aliás, como tantas outras que o Sr. em questão já proferiu para agradar aos interesses de quem representa na função.
Nenhuma surpresa, portanto.
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A bem da verdade, a proposta inicial era focar minhas escrevinhações na reportagem publicada pelo jornal El País – Prazer senhor ministro, eu sou a filha do porteiro – em que a estudante Gabriela J. Figueiredo responde linda e, diria, generosamente ao desatino da autoridade.
O tal ‘tapa com luva de pelica’, como diria a saudosa Dona Yolanda, minha mãe.
Gabriela lembra inclusive um notável pensamento do grande brasileiro (que falta faz!) e saudoso educador e antropólogo Darcy Ribeiro:
“Em nosso país, a crise da Educação não é uma crise, é um projeto.”.
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Enfim…
Esse era o tema, mas resolvi mudar.
Por uma causa justa – e, sei lá, uma dessas inexplicáveis coincidência.
Depois de mais de 40 anos , revi, neste fim de semana, ao musical Hair que tanto significou para a minha geração.
Ou melhor seria dizer: nossa geração, ministro?
(Desconfio que somos contemporâneos, não?.)
Sou do fim de 1950.
O ministro, de meados de 1949, creio.
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Já o filme em questão é de 1979, com direção de Milos Forman.
Mas, a peça foi encenada na Broadway em fins dos anos 60.
Por aqui, fez enorme sucesso com Armando Bogus e Altair Lima (depois substituído por Nuno Leal Maia) como protagonistas. Sônia Braga e Baby Consuelo davam seus primeiros passos na carreira.
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É um filme datado, ok.
Mas para um ex-hiponga (ou quase) como eu, bom de rever, bom para rememorar, bom para pensar e repensar.
Dá um zoom num tempo em que o sonho era possível.
Mostra as múltiplas faces do que éramos e o porquê lutávamos: a indignação dos jovens contra a Guerra do Vietnã num primeiro plano que se ampliava ao amplo cenário da cultura hippie: o combate à hipocrisia de muitas das nossas convenções, o irrestrito desejo de liberdade individual e coletiva e, sobretudo, a construção de uma sociedade justa, igualitária que desse oportunidades iguais a todos, indistintamente.
O lema?
Eram os dois dedos em V.
Não o V de vitória.
Não o V do vencedor a qualquer custo.
Mas, o V que traduzia o sonho de Paz e Amor.
Paz, para toda a Humanidade.
Amor, incondicional.
“Faça amor, não faça a guerra.”
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Gostei de voltar a mergulhar, mesmo que por ilusórios instantes, na utopia da Era de Aquarius.
Fiquei me perguntando se o ministro – então, na virada dos 20 – preferia Beatles ou Rolling Stones?
Se ouvia James Taylor, Jimmy Hendrix, Jane Joplin, Joe Cocker, Gil e Caetano?
Se ele também gritou para o mundo:
“É Proibido Proibir”?
Ou se, no embalo da trilha da obra, também ele saudou o amanhecer com o verso:
“Bom dia, luz das estrelas.”
Será?
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Enfim – e por fim:
Assino e dou fé ao trecho do texto da brilhante Cristina Serra na Folha de sábado, onde a jornalista escreve:
“Guedes é exemplo extremo de “aporofobia”, expressão cunhada pela filósofa espanhola Adela Cortina para definir a aversão aos pobres e que se manifesta de diversas formas no mundo contemporâneo. A palavra vem do grego áporos (pobre) e fobéo (rejeitar).
Guedes não cansa de demonstrar ódio de classe: empregadas domésticas não podem viajar e filhos de porteiros não merecem estudar. Cada vez que abre a boca, Guedes exala o mau hálito da Casa-Grande.”
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Vanderley Leite
4, maio, 2021Martino, como sempre bons textos e dedo na ferida da insanidade e dos insanos do momento. A esperança é que eles passarão.