Foto: Arquivo Pessoal
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Nunca pergunte por quem os sinos dobram.
Eles dobram por ti.
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A clássica citação ganhou notoriedade e é atribuída ao escritor Ernest Hemingway.
Foi o saudoso amigo Zé Jofre quem chamou minha atenção para o senão:
– Não é de autoria do Hemingway, não.
Zé Jofre não sabia – porque infelizmente não viveu para conhecer o Google –, mas a expressão pertence ao poeta renascentista John Donne.
Na velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, Zé Jofre gabava-se de ser autodidata e saber mais do que os jovens repórteres com diploma universitário.
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Era uma provocação, sim – e também um aprendizado para nós, os tais jovens e inconsequentes repórteres.
Foi dele a explicação para o motivo que teria levado Hemingway a resgatar o pensamento esquecido pelos escaninhos do tempo.
O escritor estava profundamente decepcionado com tudo o que observava ao redor.
Já naqueles idos esse mundão girava que girava de mal a pior.
– Era um depressivo, dizia Zé Jofre. – Mas, tinha lá suas razões.
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Ando saudoso do amigo Zé Jofre. Aliás, e para ser franco, anto saudoso de tantas coisas, de tantas pessoas que hoje “o velho normal” me parece o melhor dos mudos.
Por isso, por favor, amigos, não me entendam mal.
Longe, muito longe de mim, querer comparar-me a tão ilustre personagem da literatura universal, mas é dia e hora de lhes dizer: nesse Brasilzão que um dia foi de Meu Deus, temos lá tristes e reais motivos para estampá-la (a citação) hoje por aqui.
Em nome dos humildes e desvalidos, daqueles que sofrem, a todos aqueles a quem falta o pão e o amparo de um teto.
E são muitos…
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* A crônica de hoje nasce a partir de uma declaração que leio de um pimpão. Está em Miami e recomenda aos brasileiros que podem irem se vacinarem por lá…
Leila Kiyomura
12, maio, 2021Coragem, pão, trabalho…e governo. Difícil ver cada vez mais gente vivendo pelas ruas de todo o País.. Lembro do Zé Jofre, sentado na poltrona à tardezinha em frente da barulhenta máquina de escrever. Antes de ir embora ele distribuiu alguns livros. Eu ganhei um do Érico Veríssimo que duvidei que ele tivesse lido, pois não parecia gostar de romance: “Um certo capitão Rodrigo”…
Sabia de tudo… Está entre as boas lembranças da redação de piso assoalhado.
Coragem…