Da janela do apartamento onde moro, é possível avistar um trecho da via Anchieta.
Resolvo dar uma espiadela enquanto o noticiário da TV vai nos atualizando sobre as renitentes encrencas:
A quantas anda a vacinação,
a crise nos reservatórios,
roubos e furtos de celulares (está em alta por causa dos aplicativos bancários),
os desdobramentos do dia 7 e
a manchete da vez:
a greve dos caminhoneiros.
…
Convém conferir como está a via Anchieta:
Trânsito normal até onde posso ver.
Por enquanto.
Mas, até quando?
…
Ouço que, mesmo majoritariamente pró-governo, a classe está em rota de colisão com o Dito-Cujo que perdeu o controle da Economia e acabou por encarecer, além da conta, o custo de vida e dos fretes. Daí, a insatisfação e a pauta de reivindicações que pretende compensar as perdas.
Os danos, que se danem!, ficam sempre para quem arca com o prejuízo no final da linha.
A saber: nós, os pacatos cidadãos.
Tem um teretetê, porém:
Porque no bojo das tais demandas estradeiras, alas mais radicais exigem ações contra o STF.
Ops…
Como diria o vô Carlito, “tem gato na tuba”.
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O locutor-noticiarista diz que há um áudio em que o ainda presidente tenta dissuadi-los da mobilização:
“Fala para os caminhoneiros aí que são nossos aliados, mas esses bloqueios atrapalham a nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação e prejudica todo mundo, em especial, os mais pobres. Então, dá um toque no caras aí, se for possível, para liberar , tá ok? Para a gente seguir a normalidade.Deixa com a gente em Brasília aqui e agora. Mas não é fácil negociar e conversar por aqui com autoridades. Não é fácil. Mas a gente vai fazer a nossa parte aqui e vamos buscar uma solução para isso, tá ok? E aproveita, em meu nome, dá um abraço em todos os caminhoneiros. Valeu.”
Tá, ok?
Não sei, amigos….
Sentiram firmeza?
Há uma (in)certa tensão no ar.
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Pensem comigo:
Promover o desabastecimento seria péssimo para um Governo que se preocupa em g_o_v_e_r_n_a_r.
Desastroso para o bolso e a vida de todos.
Os reflexos de uma pandemia malcuidada aí estão. À beira dos 600 mil mortos.
A espiral inflacionária em alta;
o dólar embicando na casa dos 6 reais e
a Bolsa em queda livre.
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Fragmentos do Brasil de hoje:
– o país está cada vez mais isolado no cenário internacional;
– 0 mercado financeiro não curte essas idiossincrasias;
– os investimentos estrangeiros migram para democracias emergentes, mais estáveis;
– a consequente paradeira no comércio, na indústria, nos serviços…
Há quem ganhe (os especuladores).
Mas, há quem perca de montão. A maioria. Ou seja, nós, onde a corda sempre arrebenta.
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Mas, porém, contudo, entretanto, todavia…
A quem interessa ver o circo pegar fogo?
Quem propõe o confronto?
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Desligo a TV.
Volto à janela.
Tem um lengalenga na pista da rodovia no sentido São Paulo/Santos.
Normal. À medida que a tarde cai, é natural que aumente o movimento dos veículos. Inevitável que o trânsito fique mais moroso.
Por enquanto, tudo nos conformes.
Tomara que sigamos assim..
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Quem viveu, como jornalista, tantas e tamanhas é por natureza um cético.
Tem saudade daquele Brasil em que era possível sonhar – e desconfia de um quase tudo.
“Decididamente – ensinou o maestro Tom Jobim – o Brasil não é para amadores.”
Mas, há que se resistir…
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A frase do dia:
“A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas. O que nos une na diferença é o respeito à Constituição, aos valores comuns que compartilhamos e que estão nela inscritos. A democracia só não tem lugar para quem pretenda destruí-la”.
* Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral
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Um piano ao cair da tarde:
…
O que você acha?