Foto: UK Parliament 2023/Jessica Taylor e Roger Harris
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Charles 3° será empossado hoje como Rei da Inglaterra.
Não tenho intimidade com essas coisas de realeza, mas, com pompas e circunstâncias, posso lhes dizer que atrevidamente, quando criança, imaginava ser um príncipe.
Responsabilidade única e exclusiva de uma coleção de livros – Reino Infantil – que o pai me deu quando aprendi a ler.
10 tomos recheados de histórias em que reis, rainhas, príncipes, princesas e adjacentes se esbaldavam na luta do Bem contra o Mal.
Noves fora, uma ou outra contrariedade, não eram raras as vezes que um galante plebeu se dava bem na trama e, bingo, conquistava o coração da princesa.
Ao final da história, virava Rei, generoso e equânime, pronto a atender as demandas do povaréu.
Veio daí meus mais pungentes devaneios.
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Ainda no meu tempo de garoto, havia um personagem de uma divertida tira de quadrinhos que era o Reizinho.
Alguém me disse que o inesquecível Jô Soares se inspirou nessa criação para dar vida àquele outro Reizinho com o qual nos divertia em seus programas,
Sempre que confrontado, o figura usava aquele refrão:
“Sois Rei?”
“Sois Rei?”
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Aliás, bastou crescer um pouquinho para eu perceber o intangível de pertencer à nobreza.
Na verdade, desconfio que não me daria bem nas funções. Nunca tive ares aristocratas. Também não me sinto à vontade em atos e cerimônias protocolares, repletos de salamaleques e isso-pode-e-isso-não-pode.
Sou, como diria o Caetano se me conhecesse, tal qual Sampa: o avesso do avesso do avesso.
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Não quero ser injusto, porém.
Outros reis ao longo dos anos fizeram a minha cabeça. Se não totalmente, ao menos merecem a citação no post.
O Rei do Rock, por exemplo. Elvis Presley.
O Rei do Futebol. Primeiro e único, Pelé.
Os Reis do Iê-Iê-Ie. Os Beatles.
O Rei da Juventude. Roberto Carlos.
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(Se bem que, ressalva se faça, à medida que passavam os anos, me identifiquei bem mais com o Erasmão, saudoso Erasmo Carlos, do que com o Roberto.)
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Vamos combinar. Raros se dizem monarquistas, mas reparem: esse mundão de meu Deus – registre-se: Ele, sim, o Rei dos Reis – é farto em majestades.
O Rei do Pop? Michael Jackson.
O Rei da Fórmula 1? Para nós, brasileiros, Ayrton Senna.
O Rei do Baião? Luiz Gonzaga.
O Rei da Voz? Chico Alves.
(Esse foi o pai que disse.)
O Rei do Gado? Antônio Fagundes.
(Ao menos na ficção. De resto, a novela não acaba nunca. Vira e mexe, tascam a reprise da telelágrimas.)
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Ou seja, pela relação supracitada, ao menos para este humilde escriba, Charles 3° andará em boa companhia a partir de hoje.
Apesar de que, faça-se a ressalva, com as tais redes sociais, multiplicou-se à exaustão a moda de um ou outro mequetrefe da vida se anunciar como o Rei da Cocada Preta (seja lá o que isso quer dizer).
Tem até um Rei do Camarote que, dizem, anda à solta nas baladas da vida.
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Enfim…
Alguém me conhece bem, perguntou, se Rubem Braga seria o Rei dos nossos bem-amados cronistas.
E mais:
Quem seria o Rei do Samba?
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Vamos por partes:
Braga nunca ostentou o epíteto por pura indiferença.
No adiantado da idade, andou ensimesmado que só.
Mesmo assim, os amigos – também escritores e cronistas, Fernando Sabino, Vinicius de Moraes, Otto Lara Rezende, Hélio Pelegrino, Paulo Mendes Campo, entre outros -, o admiravam e deram-lhe a alcunha de de o Sabiá da Crônica.
Desconfio que lisonjeiramente dá no mesmo, não?
Além do que “sabiá” faz mais o jeitão do mineiro Rubem Braga.
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Quanto ao Rei do Samba?
Achei provocação a pergunta. Qualquer escolha resultaria em polêmica.
Pensei no Rei Momo para acomodar a cena.
Mas esse é o Rei da Folia, o Rei do Carnaval que, hoje em dia, é outro departamento
Então, prefiro não arriscar nenhum palpite,
Ressalvo apenas que, lá nos idos de 70, quando surgiu todo faceiro e pimpão, quem recebeu o título de Príncipe do Samba foi Paulinho da Viola, nosso poetaço maior.
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Já que o tema da realeza caiu no samba, penso que seja oportuno lembrar Moreira da Silva e seu indômito personagem, o Kid Morengueira, mais conhecido como o Rei do Gatilho.
Esse era soberano no samba-de-breque.
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O que você acha?