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A banca de jornal

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Foto: Arquivo Pessoal

Havia uma banca de jornal bem ali, na pracinha perto de casa.

Bem ali, na pracinha perto de casa, havia uma banca de jornal.

Aliás, como haviam outras tantas – três ou quatro – ao longo da avenida de quilómetro e meio que começa (ou termina?) bem ali, na pracinha perto de casa.

Todas encerraram suas atividades.

Foram removidas até.

A última, a que resistiu o quanto pôde, foi exatamente aquela banca ali, que, de certa forma, enfeitava a pracinha perto de casa.

Eram centenas de títulos de jornais, revistas, fascículos, álbuns de figurinhas, guias de como fazer isso e aquilo ou de onde ir e como ir para este ou aquele lugar. Havia alguns badulaques também à venda – que reforçavam o orçamento (acho que eram pequenos brinquedos para a criançada).

Pois é…

A banca fechou – e para ser sincero, nem me dei conta se foi há uma semana, um mês… Se foi no ano que passou.

Há tempos eu não a visitava, com olhos cumpridos para as novidades impressas.

Outros tempos, me diz o moço atrás do balcão da padaria que fica em frente à banca.

Ninguém mais lê jornal, acrescenta e conclui:

“Ninguém lê nada. Só fica cutucando o celular”.

Lembro bem. 

Era garoto. Ia cedinho para a escola.

E observava os homens em trajes formais – alguns ainda usavam chapéus – parados em frente à banca do Chico jornaleiro a sapear as manchetes do dia. Os jornalões ficavam expostos na parte externa da banca com as primeiras páginas ao alcance dos olhos de qualquer um.

Era quase um ritual.

Eles vinham com passo acelerado para não perder o bonde ou a lotação. Mas, era inevitável uma paradinha básica para espiar os fatos que aconteceram no dia anterior.

Nem todos compravam as folhas do dia. Alguns arriscavam um comentário sobre este ou aquele assunto. Todos davam bom dia ao Chico, o jornaleiro. Uma espécie de oráculo nosso.

Depois, os honrados cidadãos (e alguns bons malandros) seguiam, de certa forma, informados sobre o mundo e suas tribulações.

Ah, isso é coisa do século passado, diz o moço da padaria, com ares de quem sabe das coisas.

Preferi não concordar com ele.

Na verdade. não lhe dei quaisquer respostas porque não as tenho.

(Nunca fui o cara que sabe das coisas.)

Apenas terminei de tomar o meu café – e não disse nada.

Nada disse o homem do século 20 que se retirou um tanto nostágico, outro pouco triste, mas com passos firmes, que assim é a vida.

Ainda nenhum comentário.

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