Sign up with your email address to be the first to know about new products, VIP offers, blog features & more.

Lembranças do vô Carlito

Foto: Largo do Cambuci, anos 50? Arquivo da Secretaria Municipal de Cultura/Divulgação

Vou lhes falar do vô Carlito…

Porque, desconfio, foi ele quem, pela primeira vez, me falou sobre a estupidez de todas as guerras.

Meados dos anos 50. Ainda vivia-se o assombro dos estragos causados pela Segunda Grande Guerra.

Vez ou outra, as conversas entre os adultos giravam em torno do sofrimento do povo italiano sob domínio do nazifascismo, da invasão das tropas alemães e da sofrida resistência de uma gente festeira habituada a sorrir e a cantar.

De uma hora para outra, se viram subjugados pelo inimigo, reféns dos bombardeios e das condições subumanas que todo conflito armado impõe.

– È una disgrazia!

Humilhados em sua própria terra, sujeitos a todos os tipos de atrocidades impostas pelos dominadores, ou eles lutavam ou…

– Ou morriam, vô?

– As pessoas sofriam muito, Tchinim.

Por isso, sem alternativa, preferiam lutar e lutar…

– A vida, Tchinim, é uma benção, um dom… Mas, temos que fazer por merecê-la.

O vô Carlito acreditava piamente que os homens se envergonhavam de toda aquela tragédia.

E que eu e os da minha geração não viveríamos atrocidades semelhantes.

– Impossível a Humanidade não ter aprendido essa triste lição.

Meados dos anos 50, como eu disse.

Vivíamos um tempo de reconstrução. O esplendor dos filmes de Hollywood, a Era do Rádio por aqui a embalar sonhos e romances, o fulgor do início do governo JK, o pujante lema ‘Brasil, o País do Futuro’….

Tudo levava a crer que o novo tempo seria pautado pela fraternidade e a esperança de dias melhores.

Para todas as nações.

– Somos todos irmãos.

O chapeleiro aposentado Carlito, da janela da casa humilde na rua do Lavapés, acompanhava atento o ir-e-vir dos bondes e das tecelãs das fábricas no arredores. Olhava o movimento, cigarro Fulgor no canto da boca e o copo de vinho ao alcance da mão. Fala mansa a lembrar uma ou outra história dos pais napolitanos, a coragem dos scugnizzi na libertação de Nápoles dos comandos inimigos e a embalar o neto-caçula com os versos cantados de Luar do Sertão

– A vida, Tchinim, é uma benção, um dom… Mas, temos que fazer por merecê-la.

Ainda nenhum comentário.

O que você acha?

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Verified by ExactMetrics