Vivemos a Era do You Tube – ou sei lá que nome podemos dar ao descontrole mundial, pré-monitorado e caótico…
Que os anjos nos protejam porque nem sempre foi assim…
Querem ver?
Uma das decisões mais difíceis do jornalista Armando Nogueira como diretor de Jornalismo da Rede Globo de Televisão foi a edição de uma reportagem que recebeu de uma agência de notícia internacional. As cenas mostravam um empresário o momento em que um empresário se suicidava em frente às câmeras de TV. O homem havia convocado uma coletiva de imprensa para defender-se das denúncias de corrupção que lhe envolviam e, diante de repórteres atônitos, sacou um revólver, enfiou o cano na boca e explodiu os miolos.
Como levar ao ar uma cena dessas?
Como não noticiar já que outras redes de TV e os jornais do mundo todo abririam amplos espaços para o fato?
Nogueira arranjou uma saída genial, de pura sensatez.
Mostrou as imagens do homem até o instante em que este pede aos repórteres que se afastem já com o revólver em punho e próximo à boca. Naquela fração de segundo, Nogueira congelou a imagem e o espectador só ouviu o estrondo do tiro, o que deu a entender a tragédia consumada.
Em conversas sobre o assunto, o jornalista confessou os cuidados que é preciso ter diante de situações limites como aquela – e, de resto, outras tantas que permeiam o dia-a-dia do repórter. É imensurável – para o bem e para o mal – o impacto que a TV causa junto à opinião pública. Ainda mais em uma campeã de audiência como a Globo que, àquela altura dos anos 80, falava diretamente para 60, 70 milhões de brasileiros.
Pois é, meus caros cinco ou seis leitores…
Na tarefa de influenciar as pessoas – para o bem e para o mal –, a TV hoje ganhou novos tentáculos tecnológicos e, no mínimo, uma aliada – e tanto: a Rede.
Na sociedade youtubeana que hora vivemos , o culto aos cinco segundos de fama ou desgraça acentuou-se e beira absurdo. Casos recentes mostram esse desvario inimaginável.
Reparem.
Qualquer bobagem ali veiculada ganha peso de milhões de acessos, zilhões de comentários. Mas, para alcançar a esse status quo, é fundamental ser absolutamente bizarro e/ou peçonhento. A atriz que deu um ‘tapa’, a apresentadora que manda todo mundo para aquele lugar, cenas da top model com o namorado na praia, o jogador de futebol que foi flagrado com travestis e coisas do mesmo quilate.
Cair na rede, é moda… eeea…
Foi há algumas semanas. É provável que a rapaziada do mouse nem se lembre mais. No entanto, mostra bem o poder de influência dessa mídia. Um dos vídeos mais vistos pelos internautas foi o que mostrava o suicídio de um rapaz ao colidir seu carro com um caminhão basculante. Antes, ele rodou por quilômetros na contramão de uma estrada paulista. Os telejornais deram destaque, a Rede consagrou.
Dias desses, a polícia e as câmeras de monitoramento registraram dois casos similares. O primeiro de uma senhora que, ao se perceber sem dinheiro diante do pedágio da Imigrantes, não teve dúvida. Contornou o veículo e retornou na contramão. Na semana passada, foi a vez de uma jovem que, informou-se depois, sofre de transtorno bipolar.
Nenhuma das duas tinha uma explicação razoável, mínima, para o quê fizeram. Agiram mecanicamente, como autômatos. Para sorte, delas e dos usuários das rodovias, os anjos da guarda estavam de plantão naqueles dias e todos se salvaram.
Mas, podia não ser assim…