Foto: Agnaldo Rayol/Divulgação
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Dona Izabel (“com z, por obséquio”) faz a cobrança pertinente.
A leitora quer saber “o real motivo” que nada escrevi, aqui no Blog, sobre “o falecimento do eterno Rei da Voz, o Agnaldo Rayol” que ocorreu, repentinamente, na manhã da segunda, dia 3, após uma queda no banheiro de seu apartamento na Zona Norte paulistana.
O cantor tinha 86 anos.
É da nossa geração, lembra-me a leitora.
“Merece, pelo artista que foi, um obituário de classe.”
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Desvendou a charada, Dona Izabel, com z.
Não me considero à altura para tanta e tamanha responsabilidade, “um obituário de classe”.
Sou um malajambrado escrevinhador, sem eira, nem beira, que se esforça – e lá se vão 50 anos – a enfileirar uma letrinha atrás a outra, e da outra e da outra e da outra…
Meu ofício. Minha sina.
Também minhas muitas sismas, cara senhora.
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Tentarei explicar, nunca justificar.
Na manhã de segunda, assim que terminei de publicar o relato de minhas andanças por São Paulo – Tarde de sábado no Belas Artes -, meia-hora depois, soube da morte do cantor, ator e apresentador Agnaldo Rayol.
Pensei comigo “amanhã escrevo” – mas, confesso que fiquei um tanto abalado com o infausto acontecimento.
Mais um dos grandes artistas do século 20 que se vai.
Mexe ou não mexe com dos que são “da nossa geração”, não é Dona Izabel, com z?
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Permita-me a leitora uma confidência.
Não sou propriamente um fã de carteirinha de Agnaldo Rayol. Quando ele despontou artisticamente nos anos 60, eu era um garoto jovemguardiano que amava os Beatles, os Rolling Stones, Roberto, Erasmo e Jorge Ben Jor, desde então minha referência.
De certa forma, e não indiferente a tudo e todos, acompanhava a trajetória do cantor galã de covinha no queixo e vozeirão inigualável.
No auge dos musicais da TV Record (e ponha auge nisso) ele comandava o Corte Rayol Show nas noites de sextas-feiras, dividindo a cena com o humorista Renato Corte Real (1924/1982).
Era, digamos, a vertente romântica da programação.
Fazia um sucesso danado em muitos lares brazucas, inclusive lá em casa, com a Dona Yolanda, minha mãe, e, acreditem, o Velho Aldo, meu pai.
“Isso é que é música” – dizia minha mãe.
“Tem um vozeirão daqueles. É o Tito Schipa brasileiro” – comentava o pai, imbatível às suas referências italianas.
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Na verdade, ambos queriam mesmo espicaçar o gosto musical do filho caçula.
Eu me dividia entre a bossa-nova, o rock, a MPB e o suingue sincopado de Ben Jor.
Para eles, uma imperdoável heresia que vilipendiava e comprometia o bom gosto musical dos Martinos, Leones, Chisolinis e Avezanis.
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Então, leitora Dona Izabel com z, o mundo gira, a Lusitana roda (dizia-se, naqueles idos) e foi para beleléu a fase de ouro da Record, acabou a cumplicidade entre TV e música popular, eclodiu o Tropicalismo a propor que tudo era divino, era maravilhoso, a MPB virou um amplo e diversificado painel sonoro nos anos 70 – e o grande filósofo contemporâneo Sebastião Rodrigues, vulgo Tim Maia, decretou: “Tudo é tudo. E nada é nada”.
Avalio que aquele foi o momento de maior magnitude da carreira de Agnaldo Rayol.
Inclusive quando recebeu o título de “o Rei da Voz do Brasil”, nobreza vaga desde a morte de Chico Alves (1898/1952).
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Mesmo em outro contexto, mais conturbado, Agnaldo Rayol não perdeu a elegância e a bela voz.
Nunca saiu de cartaz.
Reinventou-se como galã de novela (em “As Pupilas do Senhor Reitor”). Fez-se apresentador de sucesso, ao lado de Branca Ribeiro, no Festa Bailes, embicou a carreira para o resgate das belas canções italianas, bombou em trilhas de novelas e perdeu-se neste Brasilzão para shows e apresentações que sempre lhes eram graça e missão de vida.
Abrilhantou centenas e centenas de cerimônias de casamento com sua voz única e impecável a interpretar Ave-Maria de Gounod.
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Não, caríssima leitora, lamento. Mas, não entrevistei Agnaldo Rayol como repórter.
Não tive o privilégio.
Mesmo assim, ainda hoje, acredite Dona Izabel com z, lamento muito a perda inestimável.
Concordo com o que diz:
Mais um dos grandes artistas do século 20 que se vai.
Isso mexe com a gente, não?
Valorizemos, pois, nosso pranto e a inevitável lembrança que, mais dia, menos dia, se fará imensa saudade.
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Agradeço a participação no Blog, Izabel com z.
Tem toda razão foi imperdoável o atraso.
Ficarei mais atento. Para assim, merecer sua preciosa atenção.
Fraterno abraço.
Ass.
Rodolfo, com f.
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TRILHA SONORA
Por falar em saudades…
Julio
8, novembro, 2024Querido,
como esses quatro que estão no clipe fazem falta… Só faltou o Tim Maia nele…
Em tempo: quando estava aí no Bananão, assisti no Canal Brasil a um filme pornô-soft cujo protagonista era …Agnaldo Rayol. Um gentleman até na hora de contracenar…. O tempo passa….