Há 100 anos morria um poeta. De tuberculose, como convinha aos românticos e visionários de então.
Só que este poeta nunca nasceu.
Foi concebido por outro poeta que lhe deu vida, personalidade e a arte de olhar a natureza como fonte de inspiração.
Falo de Alberto Caeiro (a criatura), o mais notável dos heterônimos de Fernando Pessoa (o criador).
Escolho ao acaso um de seus poemas para lhe reverenciar a memória e acalentar essa quinta-feira de sol morno que não aquece, mas resplandece.
Chama-se simplesmente “Não Basta”
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e os rios
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela abrisse
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.