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Aldir Blanc (1946/2020)

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Foto: Reprodução do Twitter

Estava prestes a completar 30 anos.

Fim dos anos 70.

Escrevia para três ou quatros pasquins que se pretendiam porta-vozes das novidades do mundo da Cultura e das Artes no país.

Pagavam pouco, quando pagavam. Não tinham futuro (como eu não me imaginava ter como escrevinhador), de iniciativa independente, mambembes de tiragem baixa pra época ( 5, 10 mil exemplares) e circulação inconstante.

Mas, faziam a alegria de quem lá podia se expressar – a minha, pelo menos..

Havia o sonho sonhado de estarmos na lida e na luta. Também nos sentíamos porta-vozes dos extraordinários talentos que não tinham espaço e vez e voz na chamada grande mídia.

(Qualquer semelhança com os dias atuais não é mera coincidência.)

Eu, manézinho que só, era metido a cobrir a área de música popular brasileira. (Olhem a pretensão e o privilégio.) E assim pude, como repórter, conhecer e entrevistar um punhado de nomes importantes, nomes que são parte da história deste paizão descarrilado, insano e odiento, mas que tem obrigação de olhar solidariamente para o futuro. E lutar para não chafurdar no militarismo-miliciano e nas trevas do atraso..

Pois foi por esta época, olhem a pretensão e o privilégio, que pude conhecer pessoalmente a dupla João Bosco e Aldir Blanc, entrevistá-los, me encantar – e consolidar a certeza de que a construção de um Brasil verdadeiramente de todos os brasileiros é obrigação de todos nós, os que ainda – e apesar de tudo – se dão ao direito inalienável de acreditar e sonhar o sonho que se sonha juntos.

Foi por esses idos que um daqueles épicos jornalecos me pediu que escrevesse sobre o melhor trabalho daquela tresloucada década. Fim de ano, fim de década, tempo de listas e tolos balanços. Tempo de quem foi quem.

Não tive dúvidas.

Olhem a pretensão e o privilégio!

Eis um trecho do meu artigo:

“Considerados, com absoluta justiça, como responsáveis pela obra mais admirável do pós-tropicalismo, o mineiro de Ponte Nova, formado em engenharia, João Bosco de Freitas Mucci, e o carioca do Estácio, psiquiatra diplomado, Aldir Blanc Mendes formaram, ao longo dos obscuros anos 70, uma dupla de autores tão harmoniosa quanto merecidamente bem-sucedida.

Na verdade, o providencial encontro desses notáveis talentos sugere uma dessas remotas venturas que, de tempos em tempos, vêm à tona com o objetivo supremo de induzir a uma reavaliação de tudo o que estiver previamente estabelecido e, por vezes até, fundamentado em sólidos conceitos, ideias e valores.

Para tanto, possuem, como armas eficazes e demolidoras, uma contundente irreverência (presente nos versos de Aldir e na ágil interpretação de João), uma saudável aversão ao lugar-comum, boa dose de ousadia, além do discernimento adequado para transformar, via de regra, em canções de raro bom gosto suas observações do cotidiano – por mais impiedosas que sejam.

A temática é a de sempre: um bem engendrado mostruário da vida do brasileiro com crendices, paixões, ironias, aspirações e tragédias.”

Aqui, a ÍNTEGRA do artigo:

João Bosco e Aldir Blanc: parceria de talentos

Ao mestre sala dos mares, o cético Aldir Blanc, que partiu nessa madrugada, minha reverência, gratidão pela luta por um Brasil indiscriminado e fraternamente com dos humildeS, dos desvalidoS, dos iguaiS, além de uma doída e imensa saudade.

Ficamos lhe devendo esta e outras tantas querelas…

*Meu registro de adeus/saudade também – e tristemente – para o ator Flávio Migliaccio, eterno Xerife de todos os Shazans que imaginamos ser. Outro querido militante das artes e cultura que se foi…

Ah, Brazil quando tu vai conhecer e valorizar o Brasil?

Quanto desconsolo!

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