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As canções do Roberto 2

* Foto no blog: Jô Rabelo

Na velha Redação de piso assoalhado, uma das histórias que o Nasci mais gostava de contar era a de como conheceu Roberto Carlos Dava um Ibope danado. Até porque o Nasci, nosso mestre e guru, caprichava na narrativa. Detalhava as cenas. Seu estranhamento ao ver moço franzino e o conselho que deu ao empresário.

— Logo vi que era um diamante bruto, de talento incomum.

Nós, jovens repórteres inconseqüentes e sonhadores, ouvíamos pela milésima vez a história e, mesmo assim, ficávamos embevecidos a imaginar a cena.

Foi no comecinho dos efervescentes anos 60. Nasci, segundo nos contava com incerto ar blasé, trabalhava na TV Record. Havia desistido da carreira de galã de novelas radiofônicas – atuava com o distinto nome de José Augusto – e, àquela época, desempenhava o fulgurante cargo de produtor responsável pela programação vespertina da emissora da família Machado de Carvalho.

— Fui um dos introdutores desse estilo de programa que ainda hoje faz tanto sucesso, dizia sempre.

Acho oportuno esclarecer que, nos primórdios, as três primeiras emissoras de TV de São Paulo (a Tupi – Canal 3, a Paulista – Canal 5 e a Record – Canal 7) só funcionavam das 18 às 22 horas e exclusivamente com produção própria e ao vivo.

Não era a farra do boi que hoje é.

A qualquer hora da madruga que você liga, tem lá um blábláblá ou uma reprise a lhe espantar a insônia e os fantasmas da madrugada. Primeiro que o vídeotape só chegou ao Brasil em 1962 e depois que filmes-filmes, a gente só via na telona do cinema. Havia uma ou outra série importada feita para a TV (Rim Tim Tim, Roy Rogers, Zorro, entre outras), mas de resto era ali no carão mesmo, todos sujeitos a chuvas e trovoados.

Pois foi num desses programas de variedades – ainda em caráter experimental – que numa bela tarde apareceu nos estúdios da avenida Miruna o empresário de artistas Antônio Aguilar. Ao seu lado, um jovem de olhar triste, cabelos curtos e encaracolados, o que salientava algumas entradas a sugerir calvície próxima. Carregava um violão, com jeito humilde e Aguilar o apresentou ao Nasci como um cantor em busca de oportunidade. Ele havia gravado um disco de boleros e baladas e queria divulgar suas músicas.

Vocês já imaginam quem era a figura.

Pois é…

Era o próprio, Roberto Carlos.

Nasci consultou a lista das atrações do dia e viu que não constava o nome do rapaz. Falou com o empresário que nada poderia fazer. Mas, se quisesse e pudesse esperar, caso qualquer ‘buraco’ no programa, ele se apresentaria.

Foi o que aconteceu.

Sobraram alguns minutos e Roberto pôde se cantar, acompanhando-se ao violão. Sua interpretação encantou a todos. Inclusive ao exigente Nasci que, implacável, fez a ressalva:

— Aguilar, o rapaz é ótimo. Tem futuro. Traga sempre que quiser. Mas, me avise antes – e quer um conselho? Dá uma garibada na imagem do moço. Cantar num programa da tarde de smoking não é legal…

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